As buscas pelo submarino argentino ARA San Juan, que está desaparecido há oito dias, entraram em fase crítica, quando as esperanças de encontrar a tripulação viva estão praticamente esgotadas. Sem pistas sobre o submarino, há contudo a confirmação de uma explosão que pode explicar o que aconteceu a bordo.
ARA San Juan
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No mar, prossegue uma operação sem precedentes, com 4 mil pessoas, envolvendo 11 países, para tentar encontrar o submarino ARA San Juan, desaparecido no Atlântico desde o passado dia 15 de novembro, com 44 tripulantes.
A operação entrou agora em fase crítica, uma vez que já passou uma semana sem informações do submarino e dos 44 tripulantes.
O porta-voz da Marinha argentina, Enrique Balbi, confirmou nesta quinta-feira (23), em coletiva de imprensa, que houve uma explosão na zona onde o submarino efetuou o último contato.
“Foi recebida a informação de um evento anômalo, único, curto, violento e não nuclear, consistente com uma explosão”, referiu Balbi, conforme cita o jornal La Nación.
O porta-voz explicou que a informação foi apurada pela Áustria “que conta com uma rede de estações sísmicas hidro-acústicas para verificar a não realização de ensaios nucleares”.
A confirmação surge depois de os EUA terem captado “uma anomalia hidro-acústica”, um “ruído” registrado no dia do desaparecimento do submarino, cerca de três horas depois da sua última comunicação.
Balbi destacou que não se sabe “a causa que produziu” a explosão, anunciando que as buscas pelo submarino e pela tripulação vão continuar.
Há receios de que possa ter havido “uma explosão nas baterias”, provocada por um curto-circuito, como refere o jornal La Nación. E este é o cenário mais temido.
“Esse curto-circuito teria gerado um arco voltaico entre as baterias e o casco da nave”, algo semelhante a “um relâmpago em um recinto fechado, um relâmpago imparável”, explica o La Nación, notando que “a onda expansiva” resultante teria “consequências letais” dentro do submarino. Além da explosão, liberaria “gás cloro, que é tremendamente venenoso”, aponta o jornal.
Um abismo de 6.200 metros de profundidade
Outra teoria aponta que o submarino teria desaparecido em uma zona onde existe um abismo de 6.200 metros de profundidade, denominada como talude continental, segundo avança a Univisión. Essa circunstância pode ter provocado um defeito na nave.
O La Nación lembra que os submarinos de classe TR-1700, a que o San Juan pertence, têm “um limite operativo próximo dos 700 metros”. Para além disso, “a capacidade de elasticidade é superada e, submetida a uma pressão que não pode suportar, o submarino colapsa, implode”, explica o jornal.
Emergência “catastrófica”
Entre todas as dúvidas e o secretismo que envolve o caso, uma vez que está em causa um submarino de guerra, o certo é que a tripulação não conseguiu trazer o submarino à tona.
Nem tão pouco foi capaz de pedir auxílio por rádio, nem lançou as diversas sinalizações de emergência, como balizas coloridas para marcar a sua posição na superfície, ou sequer evacuou a tripulação como manda as normas de emergência. Há sinais que indicam uma emergência de tipo “catastrófica”, atestam especialistas ouvidos pelo La Nación.
Segredo de Estado
O caso é tratado com muito cuidado pelas autoridades argentinas, fruto da “sensibilidade do tema”, como reconhece a juíza federal destacada para investigar o desaparecimento.
“Há informação muito sensível que obedece ao segredo de Estado: estamos falando de um veículo de guerra”, explica Olivia Marta Yáñez citada pelo jornal El Clarín.
A juíza revela, ainda, que ordenou que se investigasse “em que estado zarpou o submarino e em que circunstância se produziu a imersão”.
E perante a confidencialidade que o caso exige, começam também a surgir as teorias da conspiração. O site argentino ElIntrasigente.com afirma que o submarino já teria sido encontrado, na “inclinação” do abismo do talude continental, “na zona de transição entre a plataforma a 200 metros e a planície abissal a 5000 metros”.
Mas as autoridades estariam em “silêncio” sobre o fato, temendo o pior dos cenários, isto é, que todos os tripulantes estejam mortos.
A primeira mulher da América Latina em um submarino
A bordo do ARA San Juan seguia a primeira mulher da América Latina a pertencer à tripulação de um submarino. Eliana Krawczyk, de 35 anos, desempenha o cargo de Chefe de Armas a bordo da nave.
As operações de busca começaram apenas com meios próprios das forças armadas argentinas, mas entretanto receberam a colaboração de outros países, em um efetivo com cerca de 4 mil pessoas envolvidas.
Alemanha, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Espanha, Estados Unidos, França, Noruega, Peru, Reino Unido, Uruguai e Rússia colaboram nas operações.
Já surgiram várias pistas e indícios que se revelaram falsos, como um objeto detectado pela marinha norte-americana perto do local onde o submarino desapareceu que não teria, afinal, nada a ver com o ARA San Juan.
Entre a angústia e a esperança, os familiares dos tripulantes aguardam por informações na base naval do Mar da Prata, local onde o submarino devia ter chegado na segunda-feira (20). Neste momento, a tripulação já não teria oxigénio suficiente a bordo.
Ciberia // ZAP