Para alguns de nós, o aplicativo de namoro Tinder pode parecer uma máquina caça-níquel de sexo, um jogo para solteiros com selfies demais. Para outros, como Casey Napolitano, uma agente imobiliária de Los Angeles, Tinder é sinônimo de amor.
Ela conheceu seu marido, John Napolitano, no aplicativo durante seu primeiro e único encontro do Tinder. Ela “deslizou para a direita” quando viu uma foto de John vestindo um smoking e dando um discurso em um casamento. “[A foto] realmente me excitou”, confessou, em entrevista ao The New York Times.
Seis meses depois, o casal comprou uma casa juntos; alguns meses depois, noivaram. Estão casados há dois anos e têm uma filha de pouco mais de um ano de idade.
A história de amor dos Napolitanos não é isolada. De acordo com Jessica Carbino, socióloga do próprio Tinder, que examina os dados gerados pelo aplicativo, mais pessoas do que nunca estão embarcando em relacionamentos sérios graças ao aplicativo, que completará seu quinto aniversário em setembro.
Em busca de compromisso
Em um relatório divulgado nesta semana, o Tinder realizou duas pesquisas comparando seus usuários com pessoas que têm encontros totalmente por métodos off-line.
Estes últimos se dividiam em três grupos: pessoas que nunca namoraram on-line, pessoas que tinham tido experiências com paquera on-line no passado, mas que já não faziam isso, e pessoas que nunca tinham usado métodos de paquera on-line, mas estavam abertos para esta possibilidade.
De acordo com Carbino, as descobertas indicam que os usuários do Tinder são mais propensos a estar procurando um compromisso do que as pessoas que estão off-line.
Os questionários revelaram que os usuários de Tinder se saem melhor em sinalizar “comprometimento em potenciais parceiros”, lhes fazendo perguntas quando entravam em contato com eles pela primeira vez, e que são 5% mais propensos a dizer “eu te amo” a seus parceiros no primeiro ano de namoro.
A pesquisa também revela que, enquanto 30% dos homens que não estão paquerando online dizem que é “desafiador se comprometer” com um relacionamento, esse número cai para apenas 9% quando os homens usuários do Tinder foram consultados. Os resultados foram semelhantes para as mulheres.
“Quando você está namorando online, você tem uma ideia muito clara de como é o mercado”, aponta Carbino. “Você consegue ter uma ideia visual das possibilidades à sua frente, enquanto que as pessoas que não paqueram online estão simplesmente especulando sobre quais podem ser estas possibilidades”.
Dados duvidosos
O relatório analisou um questionário aplicado através do aplicativo para 7.072 dos usuários do Tinder, com idades entre 18 e 36 anos, e um segundo levantamento de 2.502 pessoas que só paqueram off-line, com idades entre 18 a 35, realizado pela empresa Morar Consulting.
Ainda que as pesquisas tenham sido encomendadas pelo Tinder, Carbino disse que sua posição como cientista social era fornecer uma visão válida e realista do mundo. “A visão realista pode não fornecer o que a empresa quer. No entanto, é minha responsabilidade fornecê-la e proporcionar dados que sejam precisos”, declarou ao NYT.
Não está claro se os questionários traziam amostras de demografias semelhantes e representativas, um fato que Jennifer Lundquist, socióloga da Universidade de Massachusetts, Amherst, que pesquisa namoros on-line, afirma indicar que mais estudos são necessários para determinar se os dados apresentados pelo Tinder são precisos.
“Um problema com o grupo de comparação de pessoas que não paqueram online é que, dado que o namoro online se tornou normalizado e não há mais um estigma para essa faixa etária, é incomum não participar de encontros online”, explica Lundquist.
Como resultado, ela disse, as pessoas que só namoram off-line “podem ser um grupo estranhamente distorcido ou, como os sociólogos diriam, negativamente seletos”.
A professora também questionou as motivações para a pesquisa, apontando para a crença entre muitas pessoas de que o Tinder, um mecanismo baseado essencialmente em fotos, o leva a ser um aplicativo de “ficadas” ao invés de um mecanismo para encontrar parceiros de longo prazo.
“Parece que o Tinder está tentando trabalhar em sua imagem com esta pesquisa”, afirma.
Além do aplicativo
Porém, apesar dos objetivos do Tinder e dos variados métodos dos pesquisadores, as conclusões do aplicativo podem não ser infundadas.
Em um relatório de 2012 sobre um estudo realizado pelos sociólogos Michael Rosenfeld e Reuben J. Thomas, publicado na American Sociological Review, os pesquisadores descobriram que os casais que se conheceram online não são mais propensos a terminar o relacionamento do que os casais que se conheceram off-line.
A pesquisa contínua de Rosenfeld na Universidade de Stanford concluiu que casais que conhecem online fazem a transição para o casamento mais rapidamente do que aqueles que se encontram off-line. O grupo de casais estudado por ele se conheceu em 2009, no entanto, antes do Tinder ser fundado. Atualmente, o pesquisador está coletando dados que incluem os usuários do aplicativo.
Ainda assim, não está claro se as pesquisas do Tinder, mesmo apoiadas por tendências mais abrangentes, mudarão a percepção do público sobre o aplicativo. Não ajuda que, em um artigo recente na publicado na revista do jornal The California Sunday, o fundador e presidente do Tinder, Sean Rad, admitiu praticar sexting com usuários do Snapchat.
Mas talvez Carbino, que observa o Tinder diariamente, vê o que outros não conseguem: seres humanos dando o melhor de si para se conectarem. Ela é solteira e disse que tinha encontrado, e perdido, o amor no Tinder.
// HypeScience