Vacina brasileira “anti-cocaína” será testada em humanos em 2018

A vacina brasileira “anti-cocaína’, contra a dependência em cocaína e crack deve ser testada em humanos em 2018. Os testes devem começar em junho ou julho do ano que vem.

“Foi um projeto que a gente começou em 2012. Queríamos fazer uma modificação de uma vacina que estava sendo testada nos Estados Unidos para proteção de mães usuárias de crack e seus fetos”, diz Frederico Garcia, do Departamento de Saúde Mental da UFMG, Universidade Federal de Minas Gerais.

A droga teve bons resultados em testes com roedores feitos no Centro de Referência em Drogas da universidade. A vacina seria uma forma de criar anticorpos que reduzam o efeito de prazer gerado pelo uso de drogas.

“O mecanismo farmacológico nasceu da observação que alguns usuários apresentam anticorpos antidroga mesmo sem uma estimulação imunológica. Esses anticorpos podem se ligar às moléculas de droga e, com isso, impedir que elas entrem no cérebro e produzam o efeito de prazer”

“Assim, é possível que uma vacina antidroga possa induzir o próprio corpo a produzir uma quantidade suficiente de anticorpos que impeçam a passagem da maior parte da droga para cérebro. Ao não perceber a sensação agradável, o usuário tende a diminuir ou abandonar a substância e romper o ciclo que mantém a dependência química.”

De acordo com Garcia, outros quatro grupos no mundo (três nos EUA e um na Coreia do Sul) trabalham em estudos parecidos, mas na UFMG eles alcançaram um diferencial.

“As outras pesquisas desenvolveram moléculas proteicas, enquanto nós conseguimos sintetizar a V4N2  e a V8N2 em laboratório, ou seja, elas são mais específicas, estáveis e fáceis de produzir em larga escala”, garante.

Etapas

Para a avaliação da vacina em humanos, três etapas ainda precisam ser vencidas. A primeira corresponde ao estudo da biossegurança da molécula em animais, exigência da Anvisa. A intenção é assegurar que o novo medicamento não produz efeitos nocivos a ao menos duas espécies de animais.

“Nosso grupo já iniciou esses testes em camundongos e, até o momento, tem obtido bons resultados”, afirma o pesquisador.

A segunda etapa corresponde a um estudo clínico de Fase 1, no qual serão repetidas avaliações de biossegurança em seres humanos para assegurar que os possíveis efeitos colaterais das moléculas são mínimos e atendem as normas internacionais.

Esta fase também permitirá avaliar se a V4N2 e a V8N2 são capazes de induzir a produção de anticorpos em seres humanos. A partir desses resultados, a droga pode ser testada em humanos.

Se a estratégia der certo, o futuro será possível desenvolver moléculas semelhantes para conseguir inibir a sensação de prazer da nicotina e do THC, principais componentes ativos do cigarro e da maconha, respectivamente.

A vice-coordenadora da Comissão de Dependência Química da Associação Brasileira de Psiquiatria, Carla Bicca, não crê em solução definitiva para o vício, mas recebe os resultados positivos com otimismo.

“Em uma área tão escassa, a gente recebe com boas expectativas quando surge algo promissor. Não vai funcionar para todos, mas seria mais uma arma para ajudar os pacientes”, afirmou.

A psiquiatra lembra que existem medicamentos para inibir os efeitos agradáveis do consumo de álcool, mas não funciona para todos os dependentes porque parte deles passa a beber mais para alcançar a sensação desejada.

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