O ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, reapareceu em público ontem (24) com o compromisso de dedicar-se a estimular e preparar os jovens para que se envolvam com política, mas sem nenhuma menção ou crítica a seu sucessor, Donald Trump, que se aproxima da crucial marca dos 100 dias no poder.
Depois de longas férias em lugares exóticos, dedicadas em parte a escrever um livro de memórias, Obama retomou o microfone para dar uma conferência em sua cidade predileta, Chicago. O primeiro de uma série de atos públicos que incluirão uma cerimônia em maio em Berlim junto com a chanceler alemã, Angela Merkel.
“O que aconteceu desde que saí?“, perguntou Obama em tom de brincadeira no início de uma palestra para jovens na Universidade de Chicago, a mesma na qual foi professor de Direito Constitucional durante mais de uma década.
Essa foi a referência mais direta de Obama às grandes mudanças que se produziram desde que cedeu o Salão Oval a Trump no último dia 20 de janeiro.
Dois dias antes de deixar o poder, Obama prometeu que alçaria sua voz se considerasse que as ações de Trump ameaçavam os “valores principais” do país, algo que, até agora, só fez através de seu porta-voz para criticar o veto contra certos imigrantes muçulmanos imposto em janeiro e suspenso depois por um juiz.
Obama não pretende criticar Trump nas aparições públicas e privadas que tem agendadas para os próximos meses, uma vez que não quer que suas respostas alimentem as tensões políticas no país, segundo explicaram seus assessores na semana passada ao jornal The New York Times.
O ex-presidente está centrado, por outro lado, em definir um trabalho depois da presidência no qual possa influenciar na vida política dos EUA, que considera lastrada pelas baixas taxas de participação eleitoral, a interferência desmesurada de interesses especiais e o crescente extremismo partidário.
“O mais importante que eu posso fazer para ajudar em algum sentido é preparar a próxima geração de líderes para que tomem o bastão e tentem mudar o mundo”, comentou hoje Obama.
Através da Fundação Obama e de sua futura biblioteca presidencial, ambas em Chicago, o ex-governante espera identificar jovens com talento e paixão pelo trabalho comunitário e dar-lhes as ferramentas que necessitem para ter sucesso nela.
“A pergunta é: há formas com as quais possamos derrubar algumas das barreiras que desalentam os jovens da ideia de uma vida de serviço aos outros? Se houver, quero trabalhar com eles para derrubar essas barreiras”, ressaltou Obama.
“Quero acelerar o movimento desta nova geração para a liderança. Porque, se isso acontecer, acredito que estaremos bem”, acrescentou.
O político democrata lembrou que os Estados Unidos “têm uma das taxas de participação eleitoral mais baixa de qualquer democracia”, e opinou que “isso depois se traduz em uma brecha entre quem nos governa e em que acreditamos“.
“Os únicos que vão poder resolver esse problema serão os jovens”, sentenciou.
Obama usou sua própria experiência como organizador comunitário em um bairro pobre de Chicago, com 25 anos, quando “acabava de sair da universidade cheio de idealismo” e convencido “de que mudaria o mundo“.
“Sou o primeiro em reconhecer que não ateei fogo no mundo, nem transformei estas comunidades de forma significativa. Mas a experiência me mudou (…) porque me ensinou que as pessoas comuns, quando trabalham unidas, podem alcançar coisas extraordinárias”, completou.
“Todos os problemas que enfrentamos hoje são graves, são aflitivos, mas têm solução“, enfatizou.
Obama também defendeu que se olhe para os imigrantes “como pessoas” e não “como ‘um outro'” que possa prejudicar os americanos, dado que a maioria dos indocumentados “são apenas famílias que buscam um futuro melhor para seus filhos”.
O ex-presidente receberá um prêmio no dia 7 de maio em Boston, e viajará depois à Itália, para dar um discurso na Cúpula Global de Inovação Alimentar sobre o efeito da mudança climática nas provisões de alimentos, e à Alemanha para o ato junto com Merkel em 25 de maio.
// EFE