Ofensas morais, violência física, mão boba no transporte público. A cada hora, 503 mulheres são vítimas de algum desses tipos de violência no Brasil. A maioria das vítimas é negra e parda. Dois a cada três brasileiros já presenciaram essas agressões. Os dados são da pesquisa Visível e Invisível: a vitimização de mulheres no Brasil.
O estudo foi realizado pelo Datafolha a pedido do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O levantamento foi realizado entre os dias 11 e 17 de fevereiro de 2017 com cerca de 2 mil pessoas, sendo mais de mil mulheres.
Fernanda Silva foi casada por 20 anos e sofreu agressões do marido na maior parte do casamento. Eram ofensas morais, chutes, pontapés. Ela chegou a perder o emprego devido as agressões.
“A gente chegava a discutir e ele sempre me batia. Eu cheguei a perder duas vezes o emprego. Eu ficava com o olho roxo. Eu nunca tive coragem de denunciar por causa da família e do meu filho autista”, desabafou.
Assim como no caso de Fernanda, que apanhava do marido, mais de 60% dos agressores foram os atuais ou ex-companheiros das vítimas. Apesar disso, 52% das entrevistadas não fizeram nada. Apenas 11% procuraram uma delegacia e 13% pediram ajuda da família.
O juiz de direito da Vara de Violência contra a Mulher do Distrito Federal, Ben Hur Viza, explica que, muitas vezes, as vítimas não denunciam o agressor por medo de serem consideradas culpadas pela agressão.
“Por que ele agrediu? Por que a senhora não disse não, ou por que a senhora não saiu dessa relação se ele já não te bateu antes? Essas perguntas transferem a culpa do homem para a mulher”, disse.
O assédio mais comum revelado na pesquisa foi o comentário desrespeitoso na rua. Mais de 20 milhões de mulheres foram vítimas dessa violência no último ano. Outra agressão comum foi o assédio físico no transporte público. Mais de cinco milhões sofreram esse tipo de violação de direitos.
Apesar de menos comum, a pesquisa revelou ainda que 2,2 milhões de mulheres foram agarradas ou beijadas sem consentimento.