O sequestro de dados cresce rapidamente na América Latina, especialmente no Brasil e no México, países que reportaram o maior número de vítimas do ciberataque global desta semana na região, disseram especialistas à Agência Efe.
“Entre os países mais afetados está o México, que chegou a ocupar o quarto lugar do mundo em número de vítimas, e o Brasil, o sexto”, afirmou hoje Dmitry Bestuzhev, diretor de Pesquisa para a América Latina da Kaspersky Lab, uma das maiores empresas de segurança informática do mundo, ao falar sobre o ataque “WannaCry“.
O ataque, que começou no dia 12 de maio e aproveitou uma vulnerabilidade do sistema operacional Windows, afetou 200 mil computadores em 150 países, utilizando um “ransomware” para encriptar os dados digitais da vítima. Os arquivos são mantidos como “reféns” até que um resgate seja pago para desbloqueá-los.
No caso do “WannaCry”, os hackers exigiam pagamentos na moeda digital bitcoin para restabelecer o acesso aos computadores. Segundo registros da Kaspersky, até a última segunda-feira, 236 vítimas tinham efetuado o pagamento do resgate.
“O problema é pagar. O ‘ransomware’ cresce porque as pessoas pagam. Lamentavelmente as empresas ou usuários sucumbiram a isso, o que aumenta o risco porque motiva os criminosos”, indicou à Efe o diretor de Engenharia para a América Latina e o Caribe da Symantec, Sebastián Brenner.
A Symantec, outra líder mundial em cibersegurança e que essa semana apresentou em Bogotá o relatório “Ameaças à Segurança na internet”. O documento destaca que os EUA seguem sendo o país com mais casos registrados de “ransomware” no mundo, com 34% do total. Além disso, 64% das vítimas americanas acabam pagando o resgate.
Os EUA são seguidos do Japão, com 9% do total de casos. A Itália vem na sequência, com 7%, seguido de Canadá e Índia, com 4%, Reino Unido, Austrália, Alemanha, todas com 3%. Na América Latina, o Brasil lidera a lista (1,4%), seguido do México (1,2%), Argentina (0,3%), Chile (0,29%) e Colômbia (0,1%).
Bestuzhev expressou a preocupação pelo crescimento do fenômeno na região e ressaltou que México e Brasil estão no topo da propagação dessa ameaça.
“Quanto aos alvos, se estima que 69% são usuários comuns e 31% empresas. Definitivamente, é mais fácil para um ciberdelinquente atacar uma pessoa do que uma companhia, que tem mais barreiras de segurança”, explicou Brenner.
O especialista da Kaspersky concorda. “Ainda que soe como uma velha canção, o ataque não teria tido essa dimensão se as vítimas tivessem protegido seus equipamentos. Essa proteção é gratuita”, afirmou Bestuzhev.
“O remendo de segurança para evitar o ataque em massa do ‘WannaCry’ estava disponível desde março, quando a Microsoft publicou uma atualização de seus sistemas operacionais. Passaram dois meses, e as empresas e usuários não a instalaram“, alertou.
De acordo com dados da Kaspersky, uma de cada cinco empresas no mundo sofreu um ataque de “ransomware”. Em 2016, 32% das vítimas pagou o resgate. Outras 67% perderam parte dos dados sequestrados.
“A bola agora está do lado das companhias. Instalar as atualizações é gratuito e isso deve ser feito imediatamente”, reforçou o diretor da Kaspersky.
Os dois destacaram que a América Latina pode estar ainda mais vulnerável aos ataques por outro motivo: a pirataria. “Conheço empresas que têm Windows piratas, que rompem a segurança do Windows e, depois, não podem instalar as atualizações. Não pagar pelas licenças é um risco”, defendeu Bestuzhev.
O diretor da Kaspersky ainda disse que é possível recuperar os arquivos sem pagar aos hackers. A empresa está trabalhando com a Interpol para descriptografar o bloqueio.
“É questão de tempo“, disse.
// EFE