Se você estiver passeando, digamos, por São Paulo, Atenas ou São Francisco – pode ser que você se depare com uma erva daninha tão alta quanto um edifício… no edifício, para ser mais claro.
A artista de murais Mona Caron utiliza as paredes das cidades no mundo todo como telas para as suas pinturas gigantes de plantas selvagens. Ela diz que as pinturas representam o que sobrevive às margens da sociedade. E ela quer que nós prestemos atenção reforçada.
Caron mora em São Francisco, mas é nativa da parte italiana da Suíça. Ela iniciou a carreira fazendo uma varredura das vistas aéreas das cidades, e ficou conhecida como uma artista da paisagem urbana por um bom tempo.
Mas algo aconteceu alguns anos atrás. Ela começou a fazer o contrário – pintando coisas muito pequenas de forma enorme.
Especificamente, ervas daninhas, as plantinhas selvagens que crescem nas fendas das calçadas, e que as pessoas pisam. “Quanto menos atenção prestamos nelas”, diz Caron, “eu as vou pintar cada vez maiores”!
“Eu não pinto as ilustrações botânicas de maneira delicada e meticulosa”, afirma Caron. Para ela, as ervas daninhas são plantas que têm poder.
E ela tem pintado seus murais gigantes em dezenas de cidades espalhadas pelo mundo. Há uma pintura de erva-de-leão no terraço de uma mesquita em São Francisco, uma outra gigante na Suíça, uma urtiga em Barcelona. Ela até pintou uma erva não identificada que encontrou numa das maiores favelas de Ahmedabad, no estado de Gujarat, na Índia.
“É meio engraçado”, ela destaca, “como esta ideia parece não ter fronteiras, tal como as próprias ervas”. Elas são plantas que se espalharam internacionalmente por causa da globalização. Da mesma forma, diz Caron, este projeto ganhou dimensão em todos os lugares “porque não é necessário muita verbalização para explicá-lo”.
Com um elevador tesoura motorizado a 7,5 metros do chão, Caron começa a desenhar linhas com carvão numa parede bege de superfície irregular, e depois borrifa tinta verde entre as linhas. Ela está pintando uma Plantago lanceolata – língua de ovelha – em um edifício comercial de quatro andares em São Francisco, no bairro de Telegraph Hill.
Olhando para o lado esquerdo, avista-se o alto edifício Pirâmide Transamerica. Quando ela o viu, Caron pensou, “Quer saber de uma coisa? Eu vou competir com ele! Vou pintar uma planta nele”!
Ela usa a palavra “erva daninha” para provocar. Ela sabe que é um termo depreciativo que se refere às espécies invasivas ou simplesmente às plantas que não cultivamos e que não queremos por perto.
Caron também sabe que as ervas frequentemente apresentam propriedades medicinais e comestíveis. No entanto, ela diz não ser esta a razão de enfatiza-las nos seu murais. “O que eu quero mesmo é chamar a atenção”, ela diz, “é o ato transgressivo de reviver algo que parecia estar morto”.
Por exemplo, em Union City, na Califórnia, ela escolheu a primeira planta que floresceu de um terreno devastado, onde anteriormente foi um local de sedimentos contaminados. Ela disse: “Pois bem, você vai ser a tal. Você vai ser a tal que terá a altura de um edifício de sete andares”.
As pessoas frequentemente dizem que as plantas dela parecem realistas. Mas ela insiste que não são. Ela as pinta começando por baixo, em um ângulo heróico para fazer com que se pareçam mais imponentes.
E ela conta que muita gente já a parou para perguntar, “Nossa, qual o nome desta planta impressionante? É algum tipo de orquídea ou algo fora do comum?!” Eu digo a eles, “Não, você acabou de pisar nela”.
Porque “qualquer pedacinho da natureza é na realidade incrivelmente bonito se você reservar um tempo para olhá-lo”, diz Caron.