Até dois meses atrás, o ether era apenas uma das mais de 762 criptomoedas que circulam na web – divisas virtuais que permitem realizar operações difíceis de serem rastreadas e que podem ser trocadas por dinheiro no mundo real.
O bitcoin surgiu nos últimos anos como principal referência no mercado de moedas digitais e segue como o mais valorizado, cotado a US$ 2.693,91 (cerca de R$ 9.000) por moeda. No entanto, não é o único que está se beneficiando da procura por criptomoedas.
Basta ver o exemplo do ether. Se na véspera do Ano Novo você tivesse comprado um ether por R$ 26, hoje você poderia vendê-lo por cerca de R$ 1.135.
Desde o início do ano, a cotação do ether aumentou 4.250%, tornando-se a segunda moeda virtual mais valorizada no mercado, de acordo com o portal de comparação de dinheiro digital CryptoCurrency Market Capitalizations.
Mas, entre tantas opções, por que escolher o ether?
Restrições de uso
Diferentemente de outras criptomoedas, o ether está ligado a uma plataforma chamada Ethereum e só pode ser usado dentro dela.
O Ethereum, lançado em agosto de 2014, é um software que deve ser baixado e permite fazer aplicações descentralizadas ou do tipo dapps – ou seja, via aplicativos que operam “exatamente como os programas, sem possibilidade de interrupção, censura, fraude ou interferência de terceiros”, diz a associação suíça que regula a Fundação Ethereum.
A plataforma usa a tecnologia blockchain, conhecida pela segurança e discrição. Ambos os atributos são considerados ideais para a criação de mercados digitais.
É possível, por exemplo, dar instruções de como você deseja movimentar certos montantes, no caso do euro superar a libra, e a plataforma se encarrega de que isso aconteça sem necessidade de intervenção humana.
Ether x bitcoin
Mas operar no Ethereum não ocorre de graça e o custo deve ser pago em ether. Cada ação que a máquina executa pelo usuário tem um preço. De acordo com a fundação, a cobrança garante que os dapps criados na plataforma sejam de qualidade.
Durante a maior parte de 2015, o valor de ether não ultrapassou US$ 1. De volta à véspera do Ano Novo, se você tivesse analisado as cotações passadas para decidir se valia a pena comprar ether, provavelmente teria desistido.
Na ocasião, 91,3% do mercado de criptomoedas era dominado pelo bitcoin, seguido pelo ripple (2,8%) e litecoin (2,15%). O ether representava apenas 1%. Mas o quadro mudou entretanto: a fatia do bitcoin no mercado foi reduzida para 39,8%, enquanto a do ether subiu para 28,5%.
Segundo Garrick Hileman, historiador econômico da Universidade de Cambridge e da London School of Economics (LSE), há três razões para essa mudança. “A primeira é que o bitcoin parou de inovar. A moeda está atingindo sua capacidade plena e está gerando debate sobre como aumentar essa capacidade”, explicou Hileman à BBC.
O segundo motivo se refere às características “sofisticadas” do Ethereum, que permitem projetar esses dapps.
O mais importante, no entanto, é que os empreendedores descobriram as vantagens oferecidas pelo Ethereum para conseguir financiamento: a Oferta Inicial de Moedas, ICO.
Novas criptomoedas
A ICO nada mais é do que uma forma de crowdfunding, ou financiamento coletivo: um empreendedor divulga sua ideia, cria uma criptomoeda e a vende para conseguir o dinheiro que tornará seu negócio realidade.
A vantagem para as startups é que, diferentemente de outras formas de financiamento, quem compra as moedas não recebe ações da futura empresa em troca.
O que eles ganham então? No futuro, quando a empresa estiver operando, o investidor poderá trocar sua moeda virtual por dinheiro real. Mas por que você precisa do ether? Para comprar a criptomoeda criada pela startup.
“É por isso que a imprensa não escreve sobre isso, é muito complicado!”, afirma Hileman.
De acordo com o professor, a ICO pode ser feita com qualquer moeda virtual, inclusive bitcoin. Mas a vantagem de usar o ether é que ele já vem com uma plataforma ideal para esse tipo de transação. No caso das outras moedas, você precisa procurar onde fazer a ICO.
O ápice foi na semana passada, quando a startup Bancomar arrecadou US$ 144 milhões em poucas horas. “As pessoas estavam especulando que a Bancomar criaria uma plataforma tão grande que o preço da moeda aumentaria fortemente”, conta Hileman.
“As ICOs não são ilegais, mas não estão regulamentadas”, lembra o professor sobre algo que pode representar um risco. “Há ceticismo e dúvidas se as empresas que já fizeram vão devolver o dinheiro ou se essas ICOs estão arrecadando cifras demasiado altas“, explica.
Mas no momento, a expectativa é de que o espírito empreendedor faça o valor do ether continuar a subir.
// BBC