Um jovem indiano, declarado morto em 2003 e que mantém um protesto permanente em Nova Délhi para que o Estado reconheça legalmente que está vivo, fracassou nesta quarta-feira em sua segunda tentativa a se candidatar para a Presidência do país para chamar atenção sobre seu caso.
Munido com um cartaz que estampa a frase “Estou vivo” em inglês e hindi, e vestido com uma fantasia de caveira, Santosh Murat Singh disse à Agência Efe que tentou de tudo para que as autoridades reparem o erro que já dura mais de uma década e que hoje voltaram a rejeitar sua candidatura por não ter apresentado “uma cópia do certificado de identidade”.
“Aconteceu o mesmo nas eleições de 2012: como vou apresentar um documento de identidade se me negam porque dizem que eu estou morto?”, lamentou Murat Singh em Jantar Mantar, conhecido como o “manifestódromo” de Nova Délhi, com o formulário de inscrição rejeitado.
De acordo com seu relato, a odisseia começou quando deixou sua aldeia no nortista estado de Uttar Pradesh para fazer fortuna em Bombaim, no oeste, trabalhando como cozinheiro de um ator de Bollywood.
Ali se apaixonou e se casou com uma “intocável”, o elo mais baixo do sistema de castas hindu, o que foi considerado uma afronta por seus familiares, que decidiram se vingar e tramaram uma vingança digna de filme: “reportaram que tinha desaparecido em um atentado com bomba em Bombaim, em 2003, e acabaram me dando por morto”.
Segundo conta Murat Singh, seus primos conseguiram roubar algumas terras que tinha herdado de seu pai e que “estavam avaliadas em milhões de rupias”.
A primeira reação foi ir à polícia para denunciar o caso, mas, segundo disse, os agentes lhe responderam que, se não ficasse em silêncio, “acabaria morto, e não só nos papéis”. Murat Singh afirma que chegou a falar com o primeiro-ministro de Uttar Pradesh, mas este “não fez nada” para arrumar seu caso.
Segundo o frustrado candidato, só nesse estado há outras 50 mil pessoas vivas declaradas mortas por culpa da má conduta da polícia, e isso é precisamente o que tenta resolver ao apresentar sua simbólica candidatura.
“Não pretendo recuperar as minhas terras e nem conseguir compensação, luto por uma causa que afeta muito mais gente”, explicou Kumar, que declara ter perdido tudo por perseguir seu sonho e acabou vivendo na rua e pedindo para sobreviver.
“Estou há quase cinco anos protestando em Jantar Mantar”, conta Murat Singh, “estou aqui todos os dias, desde que a minha mulher foi embora, porque não conseguiu viver sob a pressão de ser casada com um homem morto“.
// EFE