Pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em Bento Gonçalves (RS) avançaram na exploração de estruturas moleculares que, se alteradas, facilitam a produção de uvas sem semente.
Chamada de uva apirênica de mesa, essa variedade difere da espécie vinífera, adequada para a fabricação de vinhos finos.
A pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Jaiana Malabarba é uma das autoras de um artigo publicado no Journal of Experimental Botany, da Universidade de Oxford, que foi fundamental para os trabalhos da equipe do Centro Nacional de Pesquisa de Uva e Vinho, coordenado pelo pesquisador Luís Fernando Revers.
Os pesquisadores observaram o gene VviAGL11 de duas uvas: a Chardonnay e a Sultanina, que não possui sementes e também recebe o nome de Thompson Seedless. A Sultanina é a responsável por originar a maioria das variações de uvas de mesa comercializadas.
“Nos últimos dez anos de investigação, existiam hipóteses sobre a formação da semente na uva, mas não comprovações. Nós não inventamos a roda. O que nossa equipe conseguiu fazer foi uma estratégia de investigação que comprovou que o gene é importante para a formação da semente”, explicou Revers.
“Nas videiras com fruto normal, quando a baga da uva está do tamanho de uma ervilha, a camada ao redor da semente cresce e endurece. Quando o gene não funciona, o rudimento da semente para de crescer”, resumiu.
Após dominar as diferenças genéticas entre o gene que compõe a fruta com semente e o da fruta sem semente, o próximo passo é repassar os resultados ao setor de melhoramento da Embrapa, para que elaborem ferramentas de biotecnologia.
“Agora a gente vai usar o conhecimento que utilizou para entender o processo, no desenvolvimento de novas produções de novas cultivares de uvas melhoradas a partir de uma interferência do ser humano, para ter um cultivo mais acelerado. Usar essas características para fazer cruzamentos e ter uma produção antecipada, uma planta com bases em testes de DNA”, disse Revers.
O estudo foi desenvolvido em parceria com a Universidade Estadual de Campinas e a Universidade de São Paulo e apresentou, além das análises moleculares e genéticas, fotos e ilustrações. “Esse conjunto de provas foi aceito pelos editores da revista e deu essa repercussão”, comentou o pesquisador.