O padrinho da máfia siciliana Toto Riina morreu nesta quinta-feira (16), aos 87 anos, na ala prisional de um hospital de Parma, no norte de Itália, confirmou esta sexta-feira (17) o Ministério da Justiça italiano.
Apelidado de “A Besta”, Toto Riina espalhou o terror durante quase 20 anos na Sicília e dentro da Cosa Nostra, a máfia siciliana, que controlou nos anos 70. Ele morreu no dia em que completava 87 anos.
Riina, que cumpria 26 penas de prisão perpétua e supostamente ordenou mais de 150 assassinatos, passou os últimos dias em coma. A esposa e três dos quatro filhos de Toto Riina receberam nesta quinta uma autorização excepcional do Ministério da Saúde da Itália para se despedirem dele.
Giovanni, o filho mais velho, cumpre uma pena de prisão perpétua por quatro assassinatos. “Para mim, você não é Toto Riina, é apenas meu pai, e te desejo um feliz aniversário, papá, neste dia triste mas importante. Eu te amo”, escreveu outro filho, Salvatore, nesta quinta, no Facebook.
Um Riina envelhecido havia pedido em julho para ser libertado da prisão, alegando doença grave. O pedido foi rejeitado pelo tribunal, que entendeu que os cuidados que recebia atrás das grades eram tão bons quanto aqueles que poderia reivindicar fora da prisão. Os médicos disseram na época que o ex-líder do clã estava “lúcido”.
Colocado sob escuta, Riina foi gravado este ano afirmando: “Não me arrependo de nada, eles nunca vão me quebrar, mesmo que me deem 3 mil anos” de prisão.
A Cosa Nostra ainda está longe de ser dominada, de acordo com os magistrados, mas tem sido muito mais discreta, renunciando às execuções e crimes de sangue da época Riina.
“Já não há homicídios, ou são raros”, explicou recentemente à Agência France Presse (AFP) Ambrogio Cartosia, magistrado que trabalhou mais de 20 anos na seção antimáfia.
A máfia não desapareceu, pelo contrário, “me parece que está muito mais presente do que antes nas estruturas políticas, assumiu o controle do território. Atua de forma diferente. Não é militar, é menos sanguinária, mas muito eficaz“, acrescentou.
Tráfico de drogas, sequestros e agressões: Riina assumiu o controle de todos os setores tradicionais da Cosa Nostra. Para estabelecer o poder de seu clã – os Corleone –, deu início no início dos anos 80 a uma guerra sangrenta, com centenas de mortes, contra as antigas famílias de Palermo.
Esta guerra terminou com a vitória de Riina, que se tornou chefe da “Duma” (executiva da Cosa Nostra) em 1982, e marcou o início de uma campanha de violência contra funcionários do Estado.
Riina ordenou os assassinatos dos juízes antimáfia Giovanni Falcone (1992) e Paolo Borsellino (1993) e organizou os mortíferos ataques de 1993 em Roma, Milão e Florença (10 mortos no total).
Nos anos 90, a autoridade do Estado italiano vacilou, mas conseguiu recuperar através do fortalecimento do seu arsenal legislativo, com uma seção antimáfia especializada na luta contra o crime organizado, da Cosa Nostra, mas também da ‘Ndranghetta, na Calábria, da Camorra, na região da Campânia, ou da Sagrada Coroa Unida (Sacra Corona Unita), organização que atuava na região da Apúlia.
“Graças a uma luta feroz do poder judicial, a polícia, com o apoio de grandes setores da população, durante anos, certamente enfraqueceu o aparelho militar da máfia” na Sicília, garantiu o procurador Cartosio.
“Com a estratégia de massacres sangrentos na Sicília e em Itália, Toto Riina tornou a máfia visível, com centenas de assassinatos, primeiro usando ‘kalashnikovs’ e depois com recurso a bombas“, afirma Attilio Bolzoni, especialista em máfia do jornal La Republica.
Ciberia // ZAP