O rover Curiosity, que vem explorando o Planeta Vermelho desde 2012, pode ter proporcionado uma nova descoberta fascinante: há 3,5 bilhões de anos, a região onde hoje existe a Cratera Gale possivelmente abrigava um verdadeiro oásis.
Na bacia de 150 quilômetros de largura, haveria naquela época riachos que transbordavam e depois se secavam, num ciclo que provavelmente se repetia muitas vezes ao longo de milhões de anos.
A nova descoberta foi documentada na revista Nature Geoscience, e também divulgada pela NASA em seu site oficial. Os autores do estudo entenderam que as rochas enriquecidas com sais minerais (descobertas pelo Curiosity) seriam evidências de lagoas rasas e salgadas, que passaram por muitos episódios de transbordamento e secagem. Então, esses depósitos servem como uma espécie de marca d’água do que aconteceu no passado.
A Cratera Gale é o que restou de um enorme impacto ocorrido em Marte há muito tempo, e os sedimentos transportados pela água e pelo vento acabaram preenchendo o chão da cratera, criando várias camadas.
Então, depois que o sedimento endureceu, o vento acabou esculpindo a rocha em camadas, criando o Monte Sharp, que hoje está sendo escalado pelo Curiosity. Cada camada da região revela uma era diferente da história marciana, oferecendo pistas sobre as mudanças ambientais sofridas pelo Planeta Vermelho no passado.
“Entender quando e como o clima do planeta começou a evoluir é uma peça de outro quebra-cabeça: quando e por quanto tempo Marte foi capaz de suportar vida microbiana na superfície?”, indaga William Rapin, da Caltech e principal autor do estudo.
O documento revela uma descrição dos sais encontrados em rochas sedimentares de 150 metros de altura, na região chamada Sutton Island, visitada pelo Curiosity em 2017. A equipe já sabia que tal área mostrava a ocorrência de períodos mais secos e intermitentes, mas os sais encontrados ali sugerem que a água da região era uma salmoura concentrada.
A NASA explica que “normalmente, quando um lago se seca completamente, ele deixa pilhas de cristais de sal puro para trás, mas os sais da Sutton Island são diferentes: por um lado, são sais minerais, não sal de mesa, mas eles também são misturados com sedimentos, sugerindo que eles se cristalizaram em um ambiente úmido — possivelmente logo abaixo de lagoas rasas e evaporantes, cheias de água salgada”.
E, considerando que a Terra e Marte seriam parecidos em seus primeiros “dias”, Rapin imaginou que a região de Sutton Island poderia ser parecida com os lagos salinos que encontramos no Altiplano Andino, aqui na América do Sul, onde córregos e rios que fluem a partir das montanhas para o platô árido agem de maneira semelhante ao que foi observado em Marte.
“Durante períodos mais secos, os lagos do Altiplano Andino se tornam mais rasos e alguns podem secar completamente, e o fato de estarem livres de vegetação os faz parecer um pouco com Marte”, diz Rapin.
Contudo, o martelo ainda não foi batido quanto à existência de antigos oásis em Marte: a investigação continua, o que deverá acontecer nos próximos anos de atividade do Curiosity.
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