Cientistas descobrem por que os incas tinham “crânios extraterrestres”

Cornell University

Matthew Velasco, pesquisador da Universidade Cornell, nos EUA

A aparência “extraterrestre” dos crânios dos incas, como no filme “Alien”, tem suscitado o interesse dos cientistas desde há muito tempo. Investigadores estadunidenses parecem ter encontrado a resposta para este enigma.

Muitos povos antigos tinham tradições estranhas, que indicavam a correlação entre o aspecto de uma pessoa e sua posição e papel na sociedade. Por exemplo, a nobreza chinesa da Idade Média enfaixava os pés das meninas para que estes não crescessem, pois pés pequenos eram símbolo de origem nobre.

No Japão, mais ou menos no mesmo período, ganhou fama a tradição de pintar os dentes de negro: dentes negros eram símbolo de riqueza e fidelidade conjugal. Em seguida, esta tradição se espalhou por outros países asiáticos.

Do mesmo modo, segundo os cientistas, os incas alongavam os crânios de seus filhos, que ficavam parecidos com “extraterrestres”, por razões sociais, mas os motivos exatos permaneciam um mistério, pois não restaram nenhumas descrições manuscritas da tradição.

O pesquisador Matthew Velasco, da Universidade Cornell em Ithaca (EUA) e sua equipe descobriram uma das possíveis razões da estranha tradição após estudar vários crânios e corpos do povo antigo do vale do Colca, datados aproximadamente do início século XIV.

Segundo crónicas dos conquistadores, no território do vale habitavam duas grandes tribos (Collagua e Cabanas), cada uma com suas próprias tradições de “moldagem de crânios”. A primeira costumava estender e alongar os crânios, enquanto a segunda tinha crânios largos e “chatos”.

Tabuleiro de xadrez inca

Os incas alongavam os crânios de seus filhos, que ficavam parecidos com “extraterrestres”, por razões sociais

Velasco e seus colegas decidiram analisar como estas tradições mudaram ao longo das épocas para entender que papel desempenharam na vida destas tribos. É que alguns arqueólogos acreditam que a tradição poderia ter sido trazida à região pelos incas, que queriam incitar a confrontação entre as duas tribos, fazendo com que estas se juntassem ao império.

Os especialistas norte-americanos compararam como a forma dos crânios da nobreza de ambas as tribos mudou durante alguns séculos, desde o século XIV até o colapso do Império Inca.

Eles descobriram que a tradição não foi imposta pelas incas, mas sim causada pela crescente desigualdade social e estratificação da sociedade. As tentativas dos Collagua e Cabanas de se unirem perante a ameaça comum proveniente do império vizinho também contribuiu para este fenômeno.

“As mulheres com crânios alongados parecem ter comido melhor e ter morrido menos de violência. Assim, podemos afirmar que a forma do crânio desempenhou um papel importante no surgimento da estratificação social no Peru antigo”, diz o estudo, publicado em janeiro na revista Current Anthropology.

Com o tempo, o número de crânios “extraterrestres” vinha aumentando, de 30% no início do século XIV para 74% no momento em que o vale se tornou parte do Império Inca, desaparecendo as diferenças nas “técnicas” das duas tribos.

“A forma do crânio era uma espécie de “bilhete de identidade”, indicando que esta pessoa pertencia a um certo grupo, o que podia ajudar a unir a nobreza, fazendo com que cooperasse na área política”, acrescentou o cientista.

Ainda não se sabe por que os indígenas do vale de Colca escolheram a forma alongada, mas Velasco acredita que isso pode ter a ver com sua religião e mitos, segundo os quais eles eram “filhos de vulcões”. Se for verdade, a tradição exótica era um fenômeno religioso além de ser um instrumento social.

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