Portugal comemora nesta quarta-feira (25) 44 anos da Revolução dos Cravos, como ficou conhecida a revolta que marcou o fim da ditadura do Estado Novo. Apesar de abalar as estruturas políticas e econômicas do país, a Revolução dos Cravos transcorreu sem manifestações de violência.
A população saiu às ruas e distribuiu cravos vermelhos aos soldados rebeldes, que colocaram as flores nos canos dos fuzis. A data se tornou o Dia da Liberdade.
Como parte das tradicionais comemorações, o dia começou com uma sessão solene na Assembleia da República. Antes das 9h (5h em Brasília), os políticos já começavam a chegar ao Parlamento português.
O presidente da Assembleia, Ferro Rodrigues, fez o discurso de abertura e o presidente do país, Marcelo Rebelo de Sousa, falou no encerramento. À tarde, a partir das 15h, o Parlamento abre as portas ao público para visitas livres e atividades culturais. Pela primeira vez, os visitantes poderão circular entre o edifício da Assembleia da República e a residência oficial do primeiro-ministro, espaços ligados por jardins comuns.
Lisboa tem ainda uma extensa programação ao longo de todo o dia. Às 13h, será inaugurado o Jardim Mário Soares, na zona do Campo Grande, em homenagem àquele que é considerado um dos grandes nomes da democracia portuguesa.
Mário Soares lutou contra a ditadura na década de 70, foi preso e exilou-se na França. Voltou a Portugal, onde construiu uma respeitável trajetória política, tendo sido ministro dos Negócios Estrangeiros, presidente da República e primeiro-ministro. Soares morreu em janeiro do ano passado.
Haverá também o tradicional o desfile na Avenida da Liberdade, partindo da estátua de Marquês de Pombal. Sob o lema “Abril de novo, com a força do povo”, o desfile segue até o Rossio.
História
A Revolução dos Cravos foi o desfecho de uma situação que começou muitos anos antes, com movimentos de independência das colônias portuguesas. Depois da Segunda Guerra Mundial, a colonização passou a ser vista como um atentado à liberdade dos povos, e esforços internacionais passaram a ser feitos no sentido de forçar Portugal a conceder independência aos seus “territórios ultramarinos”.
Com a entrada de Portugal na Organização das Nações Unidas em 1955, a situação complicou-se ainda mais, dando início a uma polêmica diplomática que seguiria até o ano de 1974.
A partir de 1961, o que era uma batalha diplomática se transformou em guerrilhas separatistas nos territórios coloniais, com inúmeras revoltas e atos de terrorismo. Em Angola, a guerrilha começou em 1961; na Guiné, em 1963; e em Moçambique, em 1964.
Mesmo com grande esforço militar, as baixas portuguesas durante as Guerras Coloniais foram enormes, considerando-se a população do país (menos de 9 milhões de habitantes à época). Foram cerca de 10 mil soldados mortos e 20 mil feridos com sequelas, sem contar mais de 100 mil homens com estresse pós-traumático.
Com tantas baixas e uma população insatisfeita, os efeitos das Guerras Coloniais tiveram relação direta com o fim da ditadura em Portugal. As pressões não eram mais apenas internacionais. Internamente, o país enfrentava uma população hostil diante da guerra e do militarismo.
Mas foi do Exército que partiu o movimento que acabaria definitivamente com a ditadura. À meia-noite do dia 25 de abril de 1974, os soldados saíram dos quartéis, tomaram as ruas de Lisboa e exigiram a deposição de Marcello Caetano, então presidente do Conselho do Estado Novo.
Naquela noite, a população distribuiu cravos em forma de agradecimento aos soldados rebeldes. A imagem dos militares com cravos nas armas ficou na memória dos portugueses como o símbolo de uma revolução sem violência.
Os rebeldes instituíram uma Junta de Salvação, responsável por fazer a transição do regime e dar fim às instituições ditatoriais, como a Polícia Internacional e de Defesa do Estado (Pide) e a censura.
Dias após a revolta, líderes dos partidos de oposição, como Mário Soares (Partido Socialista) e Álvaro Cunhal (Partido Comunista), voltaram do exílio.
Ciberia // Agência Brasil