Há dias em que acordamos com aquela sensação de que as coisas não vão mesmo correr bem. Agora, um estudo da Universidade Estadual da Pensilvânia revela que o fenômeno não está apenas na nossa cabeça. Ou melhor: está, por isso é tão real.
O estudo de duas semanas e com 240 adultos, publicado no Journal of Gerontology no começo de junho, mostrou que sentir estresse logo pela manhã sobre as atividades que estão por vir pode prejudicar a nossa “memória operacional” (de curto prazo, que nos permite concluir várias tarefas ao longo do dia). A memória operacional também guarda informações relevantes, como endereços ou listas de compras.
“Seres humanos podem imaginar e antecipar as coisas antes que elas aconteçam, o que nos ajuda a estarmos preparados e até mesmo prevenir certos eventos. Mas o estudo sugere que essa capacidade também pode ser prejudicial para a função diária da memória, independente de os eventos estressantes realmente acontecerem ou não”, disse o principal autor do estudo, Jinshil Hyun, em comunicado.
De acordo com o IFLScience, muitos experimentos em laboratório já comprovaram que a ansiedade antecipatória pode reduzir a capacidade do cérebro de tomar decisões, manter a atenção, reter informações e fazer julgamentos morais.
No entanto, as pesquisas com enfoque nos efeitos do estresse no mundo real têm sido escassas porque os pesquisadores não conseguem acompanhar as pessoas um dia inteiro, pedindo a elas que classifiquem os seus níveis de estresse e concluam os testes cognitivos.
Mas Hyun e seus colegas, Martin Sliwinski e Joshua Smyth, perceberam de forma inteligente que os smartphones podem, agora, fazer exatamente isso.
Para dar uma olhada mais de perto no impacto do estresse na memória operacional durante situações cotidianas, os pesquisadores utilizaram um aplicativo especial, em que os participantes forneciam dados como a qualidade do sono e o nível de ansiedade antecipatória sobre o dia seguinte logo após acordar.
Ao longo do dia, durante cinco intervalos aleatórios a cada duas horas e meia, o aplicativo emitia um alerta para sinalizar aos participantes no estudo que respondessem perguntas relacionadas às suas atividades naquele momento e o seu estado psicológico. Em seguida, o app pedia que completassem uma tarefa cognitiva, a fim de avaliar a memória operacional de cada um. À noite, os voluntários precisavam responder a uma pesquisa separada, em que deviam informar sobre o estresse relacionado ao dia seguinte.
Após duas semanas, a análise revelou que o estresse ao acordar estava fortemente associado a mais erros nos testes de cognição que mediam a memória operacional, feitos no mesmo dia por indivíduos com idades entre 25 e 65 anos.
“É importante ressaltar que a antecipação do estresse foi além do efeito de eventos realmente estressantes que foram relatados. Processos antecipatórios podem produzir efeitos sobre o funcionamento da memória operacional independente da presença de um gatilho externo para o estresse”, escreveram os pesquisadores no estudo. Já a ansiedade à noite não foi significativamente associada com os resultados da memória operacional.
Sliwinski acredita que os resultados podem ajudar a orientar o desenvolvimento de intervenções que ajudem as pessoas a maximizar sua capacidade cognitiva durante os períodos de estresse matinal, algo que qualquer pessoa sobrecarregada provavelmente experimenta.
“Se você acordar e sentir que o dia será estressante, talvez seu telefone possa lembrá-lo de relaxar profundamente antes de começar o dia. Ou se o seu poder cognitivo estiver num ponto em que pode cometer um erro, talvez seja possível receber uma mensagem dizendo que aquela pode não ser a melhor hora para dirigir”, disse Sliwinski.
O cientista observa que a equipe já iniciou estudos de acompanhamento que avaliarão as manifestações fisiológicas do estresse diário, tendo os voluntários passado a utilizar dispositivos biossensores.
Ciberia // IFLScience