Na última quarta-feira (26), o governo do estado de Yucatán (MX) lançou um decreto que libera duas zonas específicas do uso de transgênicos. O estado governado por Rolando Zapata Bello (PRI), é o primeiro na península em tomar essa decisão.
Segundo o Diário Oficial do estado, as razões pelas que se declaram zona livre dos organismos geneticamente modificados (OGM) se deve a diversos fatores, entre eles os riscos que essas substâncias provocam na saúde dos seres humanos.
Os OGMs estão relacionados à incidência de câncer, à poluição do subsolo e do aquífero peninsular, que tem o solo mais permeável, além do dano à economia dos camponeses indígenas, que se sustentam a partir da apicultura (criação de abelhas).
O decreto estabelece que “é necessário aplicar o princípio de precaução ante o dano moralmente inaceitável de ameaça à saúde pela presença de soja transgênica e do uso extensivo de agroquímicos; pelos danos graves e irreversíveis à atividade apícola; e porque é injusto para futuras gerações”.
O decreto argumenta que os transgênicos “atentam contra os direitos humanos dos povos maias produtores de milho ou apicultores, contra a comercialização e a industrialização, e contra a propriedade social, assim como o direito humano a um ambiente saudável”.
A partir do decreto, a Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente, junto à Secretaria de Desenvolvimento Rural, terá que promover o uso dos cultivos orgânicos entre os produtores agrícolas. Para isso, a ideia é entregar sementes livres de OGM e capacitar e supervisionar os camponeses sobre o cuidado com os cultivos orgânicos.
Debate
Nos últimos anos, a discussão sobre o uso de transgênicos na península de Yucatán tem ficado mais intensa.
No Campeche, por exemplo, as comunidades indígenas têm começado a transformar seu cultivo, mas têm enfrentado os grupos defensores dos OGM, como os menonitas (grupo religioso e étnico que chegou ao país na década de 20 no século passado) e as empresas desenvolvedoras destes produtos, como a Monsanto.
Recentemente, integrantes do coletivo Los Chenes viajaram ao Peru para participar na Conferência Latino-Americana para Doadores de Povos Indígenas, onde denunciaram que o estado mexicano é incapaz de atacar a sentença da Suprema Corte de Justiça da Nação (SCJN) vinculada ao cultivo ilegal de OGMs.
Quem tem advertido sobre as consequências do cultivo de transgênicos também alerta que a água da península yucateca é afetada pelos agroquímicos que, segundo as pesquisas da Universidade Autónoma de Yucatán (UAY) em parceria com a Universidade Autónoma de México (UNAM), afetam as mulheres maias.
Os estudos realizados determinaram a presença de elementos cancerígenos ligados aos uso de agroquímicos no leite materno e no sangue das mulheres.