A imagem de uma mulher com um desenho riscado em sua pele foi compartilhada à exaustão em grupos de WhatsApp, no Facebook e no Twitter nesta quarta-feira (10).
Trata-se de uma moradora de Porto Alegre que disse ter sido abordada e agredida por três homens por causa de uma camiseta com a frase “Ele não” que ela usava – a referência é ao movimento de mulheres contra o candidato a presidente Jair Bolsonaro (PSL).
De acordo com a jovem, que não teve seu nome revelado por questões de segurança, o grupo a atingiu com socos e usou um canivete para desenhar uma suástica em sua barriga. Porém, segundo sua advogada, a jovem “optou por não representar criminalmente. Ou seja, ela não vai dar prosseguimento ao caso em virtude do abalo emocional dela”.
O delegado titular da 1ª Delegacia de Porto Alegre, Paulo Jardim, diz que os suspeitos de cometer agressão ainda não foram identificados e o desenho não é um símbolo extremista.
“Eu fui olhar o desenho que fizeram na barriga dela. É um símbolo budista, de harmonia, de amor, de paz e de fraternidade. Se tu fores pesquisar no Google, tu vai ver que existe um símbolo budista ali. Essa é a informação”, afirmou em entrevista à BBC.
Responsável pelas investigações do caso, Jardim afirmou que a jovem relatou ter sido agredida no início da noite de segunda-feira por três rapazes após descer de um ônibus. “O termo que ela usou foi que riscaram a barriga dela com um canivete e agrediram ela com socos. Ela estava usando uma camisa do ‘Ele não'”, resumiu o delegado.
Ele criticou a cobertura da imprensa sobre o caso e disse que veículos de comunicação estão “forçando uma barra, insinuando mil e uma situações que não é nada que tem nos autos”.
Zalmir Chwartzman, presidente da Federação Israelita do Rio Grande do Sul, não quis comentar as declarações do delegado.
“Temos que ter prudência e aguardar as investigações. A insanidade que tomou conta do país é assustadora. Cabe neste momento uma manifestação dos dois candidatos pedindo paz no Brasil. Há gente que faz loucura em nome de Deus, Alá, Moisés, Lula, Bolsonaro, mas o Brasil é maior que as pessoas e os partidos.”
Investigação em andamento
O delegado afirmou que a vítima só registrou um boletim de ocorrência cerca de 24 horas após a agressão.
“Tomamos conhecimento há mais ou menos uma hora porque ela não registrou na minha delegacia, que é o local do fato. Ela não registrou na área judiciária, que é o centro de tudo. Nem na Polícia Militar foi registrado. Ela registrou na segunda delegacia de polícia ontem de noite. Eu fiquei sabendo do fato porque a mídia começou a me ligar e eu fui correndo atrás”, afirmou.
“O que eu tenho é isso. Uma moça agredida que foi riscada na barriga e, pelo desenho que ela expôs na internet, é um símbolo budista, de amor e fraternidade.”
Ao ser questionado sobre a motivação de alguém cortar a pele de outra pessoa com um canivete para desenhar um símbolo de amor, o delegado ironizou. “Aí, eu teria de perguntar para esse alguém. Eu seria adivinho e eu não sei adivinhar.”
O que diz a defesa da mulher
Gabriela Souza, advogada da garota, afirmou que sua cliente foi atacada gratuitamente por estar com um adesivo com os dizeres “#EleNão” e um arco-íris, um símbolo LGBT. Não houve, segundo relato dela à polícia, citações diretas dos acusados à disputa eleitoral.
“Esse ato homofóbico foi feito com o objetivo de intimidá-la. Ela foi atingida física e emocionalmente. Existe aí um óbvio contexto político subentendido”, diz a advogada.
Para Souza, a declaração do delegado sobre a suástica foi precipitada.
“Ele fez uma declaração completamente equivocada num primeiro momento, até porque, entre outras coisas, o comportamento dos agressores é incompatível com o budismo. Mas ao longo do depoimento prestado à tarde ele entendeu a gravidade e a proporção do caso e então passou a dar a atenção correta. O Estado precisa estar preparado. Não pode confundir suástica, símbolo do nazismo, com símbolo de amor, da paz budista, porque é justamente isso que está acontecendo na política atual.”
Questionada sobre o trio de suspeitos e o estado de saúde da jovem, a advogada não quis dar mais informações a fim de preservar sua cliente, que não quis conceder entrevista.
Ocorrência “inédita”
Ainda segundo delegado, é a primeira vez que ele atende a uma ocorrência com essas características. “Eu não tenho notícia de fato semelhante. É inédito”, diz.
Jardim contou que a jovem foi encaminhada ao Instituto Médico Legal (IML) para fazer exame de lesão corporal. O laudo deve ficar pronto nos próximos dias. “Foi um delito de pequeno poder ofensivo, uma lesão leve, e nós vamos fazer um termo circunstanciado”, afirmou o delegado responsável pelo caso.
Ele diz que a polícia está “procurando imagens, testemunhas, e estamos batendo nas casas para ver se alguém testemunhou alguma coisa”. O delegado disse ainda que vai ouvir a jovem, o que ainda não havia ocorrido.
Segundo a assessoria de imprensa do Ministério Público estadual gaúcho, não foi registrado nenhum caso recente relacionado a atos neonazistas no Estado.
O MP-RS destaca, ao mesmo tempo, que, em setembro, foram condenados em Porto Alegre três homens por tentativa de homicídio triplamente qualificado, após terem agredido a facadas, socos e pontapés, em 2005, três jovens que usavam um quipá (símbolo judaico). Os condenados faziam parte do grupo skinhead Carecas do Brasil, segundo a Promotoria.
Ciberia // BBC
Acredito que os idiotas que fizeram isso na pobre moça até queriam fazer uma suástica, mas na ignorância e falta de conhecimento, fizeram o símbolo ao contrário. O delegado, sem noção, foi buscar uma justificativa ridícula pra minimizar o crime.
Qualquer tipo de agressão, tanto de esquerda quanto de direita, deve ser veementemente combatida e repudiada.
A suástica nessa posição é o símbolo nazista e NADA, NADA tem a ver com paz e harmonia. Os nazistas são tão péssimos e limitados, que nem um próprio símbolo conseguiram criar para eles, roubaram a suástica original, que essa sim representa tudo que há de bom, mas a posição dela é reta, e dessa forma que eles usam como se estivesse “girando”. Que delegado péssimo… sinto muito por esta moça, sinto muito pelo nosso país, os brasileiros estão loucos, e a coisa vai ficar muito feia… espero estar errado, mas vai ficar pior do que já está.
Impressionante! A intolerância crescerá mais, imitando o “modelo autoritário” do momento político. Uma tortura para a jovem… Elegeremos a violência? Que vergonha!
Está ao contrário. Espelho????
Único comentário razoável apresentado aqui Jofre!
O Delegado está 100% correto, procurem o velho e bom dicionário ou livros de historia que não tenham sido editados pelo MEC entre 2003 e 2016, ou até mesmo o Ph.D Google e verão qual é a verdeira origem da suástica e seu significado. A ignorância está acima da razão para certas ideologias.
Fábio, deixe-me entender o seu raciocínio: Então, na sua opinião, não há problema de terem feito esse símbolo de amor e fraternidade na mulher?