O ministro da Saúde cubano, José Ángel Portal, garantiu esta semana que Cuba “não faz política com a saúde de nenhum povo”, e ressaltou que o governo do país levou “o tempo suficiente” para decidir sobre a volta dos médicos que estavam no Brasil pelo programa Mais Médicos.
“Levamos o tempo suficiente para confirmar que o presidente eleito (Jair Bolsonaro) estava disposto a afetar o atendimento de saúde de aproximadamente 30 milhões de brasileiros, tudo para realizar um jogo político que é impossível de se entender que beneficiaria o seu país”, disse o ministro em entrevista ao site Cubadebate.
Cuba anunciou na semana passada que retiraria os mais de 8 mil médicos que mantinha no Brasil em resposta a declarações de Bolsonaro.
Segundo o acordo, que também contava com a participação da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), os cubanos recebiam 30% do salário no Brasil e os 70% restantes ficavam com o governo de Cuba, algo “inaceitável” para Bolsonaro, que chamou os médicos do programa de escravos de uma ditadura.
Diante dessas acusações, o ministro da Saúde cubano respondeu que esse dinheiro “contribui para financiar os serviços sociais de 11 milhões de cubanos, inclusive dos parentes dos médicos no exterior”, que se beneficiam da assistência médica gratuita no país natal.
“O dinheiro não vai para a conta pessoal de ninguém nem serve a interesses individuais. Enquanto alguns utilizam o dinheiro público para salvar bancos, Cuba salva vidas“, ressaltou Portal.
Segundo Portal, essa é a primeira vez que, em 55 anos de missões médicas cubanas no exterior, “Cuba se vê em uma situação como esta”: “Não a procuramos”, acrescentou.
De acordo com o Conselho Nacional das Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), pelo menos 611 cidades brasileiras podem ficar sem médicos a partir de 2019 por causa da saída dos cubanos, os únicos que aceitaram ir às cidades mais remotas, isoladas ou mais pobres do país.
O presidente eleito Jair Bolsonaro chegou a propor uma negociação bilateral para que os cubanos pudessem solicitar asilo no Brasil, recebendo 100% do salário e com a possibilidade de transferir as famílias.
Em resposta, Cuba enfatizou que não tolerará “ofertas mal-intencionadas e tendenciosas que buscam fazer com que os colaboradores abandonem a missão”. “Muitos menos vamos admitir as ofensas à integridade moral deles, nem o menor risco para as suas vidas”, advertiu o ministro cubano.
Cuba também garantiu que “não deixará à própria sorte” e respaldará com “todas as garantias” os médicos cubanos que ficarão como residentes permanentes no Brasil.
Os médicos cubanos representam mais da metade dos contratados no programa Mais Médicos, participação que teve início em 2013, sob a presidência de Dilma Rousseff.
Em cinco anos, mais de 20 mil profissionais cubanos atenderam 113,3 milhões de pacientes brasileiros nos 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs).
Cuba, que tem a exportação de serviços profissionais entre as principais fontes de receita, mantém atualmente 55 mil médicos em 67 países.
Ciberia // EFE
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Se as intenções são boas, por que os médicos são proibidos de sair de Cuba com seus familiares? Por que as declarações do governo cubano não incluíram a possibilidade de escolha pelos médicos quanto a ficarem no Brasil e receberem seus familiares para morarem juntos aqui?