Em carta pública divulgada nesta quinta-feira (16/01), o ex-presidente da Bolívia Evo Morales, que está refugiado na Argentina há mais de um mês, recuou da ideia de promover a formação de milícias no país.
“Há alguns dias foram tornadas públicas palavras minhas sobre a formação de milícias. Me retrato delas. Minha convicção mais profunda sempre foi a defesa da vida e da paz”, disse Evo, que renunciou à presidência da Bolívia em novembro do ano passado por pressão das Forças Armadas após ser acusado de fraudar as eleições de outubro.
Uma rádio boliviana divulgou na semana passada uma gravação no qual Evo reitera ter sido vítima de um “golpe de Estado” durante uma reunião com simpatizantes na Argentina. “Quero que vocês saibam que em pouco tempo, se eu voltar ou alguém voltar, temos que organizar como na Venezuela as milícias armadas do povo”, disse Evo.
As declarações foram muito criticadas por opositores na Bolívia. O governo interino de Jeanine Áñez, que o substituiu no cargo após a renúncia, chegou a anunciar que apresentaria novas denúncias criminais contra o ex-presidente boliviano.
As mílicias ou coletivos chavistas são formados por civis armados que se dizem defensores da revolução bolivariana na Venezuela. Um desses “coletivos” abriu fogo contra um comboio que levava opositores de Nicolás Maduro à Assembleia Nacional, o parlamento do país. ONGs internacionais os consideram organizações paramilitares que funcionam como grupos de extermínio. Na carta, Evo afirmou que sente “profunda dor” pela situação da Bolívia.
“O decreto de impunidade das Forças Armadas, os massacres, os grupos paramilitares que percorrem as ruas, as casas queimadas, os tribunais eleitorais incendiados, os presos políticos e a perseguição sistemática. Todos esses crimes sem justiça”, escreveu.
Evo pede ainda na carta que a comunidade internacional garanta os direitos humanos na Bolívia. Para o líder do Movimento ao Socialismo (MAS), o país só pode voltar à paz com uma democracia plena, que restabeleça o Estado de direito e respeite a Constituição.
“Não quero que nada que eu diga seja usado como um pretexto para perseguir e reprimir meus irmãos e irmãs”, destacou o ex-presidente.
Áñez, que se autoproclamou presidente interina em meio ao vazio de poder após a renúncia de Evo e dos ocupantes dos cargos da linha sucessória do Executivo na Bolívia, iniciou um processo penal contra o ex-presidente para acusá-lo de sedição, terrorismo e financiamento ao terrorismo. Em dezembro, o Ministério Público da Bolívia emitiu uma ordem de prisão contra o ex-presidente.