Coronavírus: mortes em casa sobem até 150% e revelam cenário caótico da pandemia

Marcos Santos / USP Imagens

No Amazonas, um dos estados brasileiros mais afetados pela pandemia de covid-19, o número de diagnósticos no interior já superam os registros da capital Manaus, mas isso não significa que o cenário deixou de ser caótico da pandemia.

A tendência mais comum no momento, de acordo com depoimento de uma médica do Samu (Serviço do Atendimento Móvel de Urgência) para a BBC Brasil, são as mortes em domicílio pela doença, de pessoas que não estavam internadas ou mesmo diagnosticadas.

Pacientes como esses chegam a um estado grave, sem nem ter a chance de receber atendimento médico: estão morrendo fora dos hospitais, muitas vezes de uma piora rápida e inesperada da covid-19 ou com medo de ir ao médico e pegar a doença.

“Era muita coisa. Antes disso, eu não costumava constatar nenhum óbito (doméstico) no meu plantão”, conta a médica, que pediu para não ser identificada. “Em geral eram pessoas idosas, de 70, 80 anos. Esperavam em casa mesmo, porque sabiam que não iam ter assistência nos hospitais (superlotados). Tentavam no limite tudo o que podiam em casa”.

É um fenômeno que tem se repetido em outros países e regiões cujos sistemas de saúde têm sido duramente atingidos pelo novo coronavírus. No Reino Unido, um levantamento recente do jornal The Guardian identificou cerca de 8.000 mortes domiciliares a mais durante a pandemia do que no mesmo período de anos anteriores.

Nos EUA, o país com o maior número de casos e mortes de covid-19 no mundo, também há preocupações com um aumento expressivo de mortes fora de hospitais. Em abril, um levantamento feito na cidade de Nova York apontou que o número de moradores morrendo em casa subiu para 200 por dia. Antes da pandemia, eram 20 a 25 por dia.

No Brasil, ainda é preciso contar com a percepção dos médicos dentro de suas experiências na linha de frente, pois ainda há poucos dados a respeito de mortes domiciliares. Os números mais recentes indicam 1.349 mortes confirmadas em 24 horas. Ou seja: uma a cada 64 segundos, o maior número já contabilizado. O índice supera a alta de ontem, quando foram registrados 1.262 óbitos.

Com isso, o total de óbitos chega a 32.548. O número de pessoas recuperadas da doença também sobe a cada dia e já chega a 238.617, o equivalente a 40,9% dos pacientes. Com a inclusão de 28.633 novos diagnósticos, o país contabiliza 584.016 casos em todo o seu território. Ainda segundo a pasta, mais de 312 mil casos seguem em acompanhamento, sem diagnóstico confirmado.

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