Donald Trump visita nesta terça-feira (1) Kenosha, cidade do estado de Wisconsin que tem sido palco de confrontos violentos entre grupos políticos adversários. As autoridades locais pediram ao presidente americano que cancelasse sua viagem, com medo que a visita causasse ainda mais motivo para tensões, em um momento em que a comunidade precisa de estabilidade.
Trump está apostando em uma jogada arriscada, pois terá que ter muito tato ao interagir com a população e as autoridades de Wisconsin, um estado que pode ser decisivo para as eleições presidenciais em 3 de novembro.
O governador do Wisconsin, Tony Evers, e o prefeito de Kenosha, John Antaramian, são democratas e acreditam que a visita presidencial pode fazer com que os ânimos fiquem ainda mais inflamados em um momento que pede tranquilidade.
O candidato democrata Joe Biden também tinha programado uma viagem à cidade, mas sua equipe de campanha acabou cancelando a visita. As dois partidos fizeram um cálculo político das consequências de uma visita a Wisconsin nesse momento delicado, mas chegaram a decisões diferentes.
Em 2016, Trump conquistou o Wisconsin, fazendo que Hillary Clinton perdesse os eleitores que, desde 1988, favoreciam candidatos democratas. A ex-secretária de Estado de Barack Obama foi criticada inclusive por seu marido, Bill Clinton, por não visitar o estado durante a campanha presidencial de 2016.Biden deve evitar cometer o erro de negligenciar o estado novamente.
Trump também precisa ter cautela na visita a Kenosha nesta terça-feira. Apesar da preocupação das autoridades locais, Trump falou nessa segunda-feira (31) que sua visita pode aumentar o entusiasmo e o respeito pelo país.
O presidente também disse que desconfia que os governantes democratas querem impedir sua visita por motivos políticos, pois sabem que sua presença na cidade pode resultar em mais votos a seu favor. Os olhos dos analistas políticos e responsáveis pelas campanhas dos dois candidatos estão no que as pesquisas de intenção de voto em Wisconsin vão indicar depois da visita presidencial a Kenosha.
Batalha política
Apesar da gravidade dos conflitos que já resultaram até em mortes, as cidades e estados afetados pela violência são, antes de tudo, vistos como campos de batalha política para as campanhas de Trump e Biden. Os dois inimigos políticos estão usando os confrontos violentos para dizer que tudo vai ficar ainda pior se o outro for eleito em novembro. Um candidato acusa o outro de não condenar a violência desses embates que já resultaram em mortes e ferimentos graves.
Na terça passada (25), Kyle Rittenhouse, jovem de 17 anos simpatizante do presidente americano, atirou em três pessoas em um conflito em Kenosha, deixando dois mortos e um ferido de um grupo adversário. A campanha de Biden está chamando a atenção para o fato de Trump até agora não ter condenado o atirador que tinha um rifle AR-15. Trump diz que o caso está sob investigação e pode se tratar de autodefesa.
No sábado (29), um membro do grupo de direita pró-Trump Patriot Prayer, Aaron J. Danielson, foi morto, em Portland, no estado de Oregon, com um tiro em um confronto com grupos que, desde a morte de George Floyd, protestam contra o racismo e a brutalidade policial em demonstrações que frequentemente se tornam violentas.
A erupção desses protestos, que muitas vezes envolvem saques, vandalismo e violência, se deu em maio. As demonstrações recrudesceram quando, em 23 de agosto, o jovem negro Jacob Blake foi baleado em um confronto com a polícia de Kenosha, ficando gravemente ferido.
Aumento da criminalidade
Desde maio, a criminalidade tem aumentado significativamente em diversas cidades americanas, como Portland, Nova York e Chicago. Os republicanos exploram o fato de que essas cidades são governadas por democratas. Já os democratas dizem que a violência é uma consequência do discurso incendiário de Trump.
A campanha de Trump também acusa Biden de não condenar as demonstrações violentas de grupos de esquerda como Antifa e Black Lives Matter. O tópico não foi mencionado durante a convenção democrata realizada de 17 a 20 de agosto.
A vantagem de Biden sobre Trump nas pesquisas está ficando cada vez mais apertada e mesmo a imprensa simpática a Biden, como a CNN, recentemente passou a pressionar os democratas para que se posicionem contra as demonstrações consideradas como vandalismo. A campanha de Trump diz que os saqueadores e vândalos são os próprios eleitores de Biden.
O candidato democrata não tinha mais como evitar a questão da violência urbana que tanto preocupa os americanos e, particularmente, mulheres que vivem nos subúrbios e são as eleitoras mais disputadas nessas eleições.
Nesta segunda (31), em Pittsburgh, no estado da Pensilvânia, o vice de Obama fez um pronunciamento fechado ao público e à imprensa, condenando firmemente qualquer manifestação que envolva violência, saques, incêndios e vandalismo. Biden também disse que a situação não vai melhorar se Trump for reeleito e que a campanha republicana não esconde que está aproveitando o atual caos para assustar e manipular os eleitores.
Trump, também nesta segunda-feira, admitiu que sabe que basta ele tuitar as palavras “Lei e Ordem” para instantaneamente atrair a atenção de milhões de eleitores.
As cidades mais afetadas pela crescente violência são governadas por democratas. No entanto, os eleitores percebem que sua segurança está sendo colocada em jogo para fins políticos tanto por republicanos quanto por democratas. Segundo as últimas pesquisas com residentes de Wisconsin, o apoio da população às manifestações em massa está diminuindo, passando de 61% em maio para 48% em agosto. Mas o índice de reprovação de como Trump está lidando com as demonstrações continua inalterado em 58%.
As manifestações em massa se tornaram um tópico extremamente importante para as eleições presidenciais americanas deste ano. Apesar de serem vistos por políticos como oportunidades para avançarem suas agendas, para a população americana em geral os constantes conflitos, por enquanto, parecem apenas um beco sem saída.
// RFI