Na pandemia da COVID-19, uma das maneiras mais eficientes de controlar a disseminação do novo coronavírus (SARS-CoV-2) é a testagem em massa dos suspeitos.
Caso seja confirmada a infecção, o paciente deve ficar em observação e de quarentena. Em geral, esses exames são simples, mas pela primeira vez, na curta história desse vírus, um swab nasal (assim chamado o cotonete de haste longa usado no procedimento de RT-PCR) supostamente fez vazar um líquido que é, normalmente, encontrado em volta do córtex cerebral e da medula espinhal.
Será que o profissional responsável por fazer a coleta, em Iowa, nos Estados Unidos, tenha passado dos limites da cavidade nasofaríngea da paciente? Provavelmente, não. Segundo o relato dos médicos que descobriram o incidente, tudo estava relacionado a uma condição rara pré-existente na mulher.
Isso porque a paciente apresenta encefalocele — um defeito congênito raro que faz com que os ossos do crânio não se fundam normalmente e deixem cavidades — que afeta apenas um em cada 10 mil recém-nascidos, anualmente, nos EUA.
No caso específico da paciente, a malformação estava próxima de sua cavidade nasal. O caso completo foi publicado nesta quinta-feira (1) na revista científica JAMA Otolaryngology – Head & Neck Surgery.
Acidente ou anomalia anatômica?
Segundo os médicos, a paciente estava com nariz escorrendo, rigidez do pescoço, dor de cabeça, fotofobia e um gosto estranho de metal na boca. Após avaliarem sua condição, perceberam algumas alterações que precisavam ser melhor investigadas — inclusive encontraram o líquido cefalorraquidiano (LCR), aquele que supostamente vazou na hora do exame — em amostras.
Questionada sobre sua situação, a mulher comentou ter feito, recentemente, exame para a COVID-19, como uma precaução antes de sua cirurgia. Logo depois do exame para coronavírus, começou a sentir coriza e dor de cabeça, além de uma crise de vômitos.
Para completar o caso, os médicos realizaram exames de imagem da paciente. De acordo com o relato, “a tomografia computadorizada (TC) e a ressonância magnética (RM) identificaram uma encefalocele de 1,8 cm“, ou seja, ela tinha um tipo de abertura no crânio.
“Portanto, teorizamos que o próprio swab não resultou em uma violação da base óssea do crânio, mas sim que o teste invasivo causou trauma à encefalocele pré-existente da paciente”, explicam os autores.
Em 2017, a paciente tinha feito uma outra tomografia computadorizada do seu cérebro. Embora o exame revelasse a discreta condição rara, o defeito congênito não foi notado — até que um teste com o cotonete para detectar COVID, provavelmente, tenha rompido uma fina membrana e feito com que o líquido vazasse.
Mais opções de exames para COVID-19
Em outras palavras, o caso foi um infeliz incidente e que também envolveu o desconhecimento de uma condição pré-existente. Atualmente, a paciente se recupera no hospital onde foi avaliada e feita a correção da abertura.
Entretanto, as chances do caso — que foi o primeiro — se repetir são incrivelmente raras. Afinal, foi a primeira situação relatada em mais de 10 meses desde a chegada do coronavírus.
Por outro lado, já existem, atualmente, outros tipos de testes para a COVID-19 e que gradualmente começam a alcançar mais pessoas para a testagem da infecção, além do uso do swab nasal. Outra opção são os testes rápidos, conhecidos como sorológicos, que utilizam o sangue para verificar a presença de anticorpos. Há inclusive uma inciativa da USP, no Brasil, de um teste que pode detectar o coronavírus a partir de amostras de saliva.
O relato completo do caso, publicado no JAMA, pode ser acessado aqui.
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