Na última terça-feira (23), o Departamento de Justiça dos EUA entregou um “presente de Halloween” pouco agradável ao Google: um gigantesco processo antitruste, acusando a empresa de práticas que eliminam a competição nos mercados de busca e publicidade e que prejudicariam os consumidores, já que eles não teriam alternativas e ainda seriam privados da inovação que a concorrência pode trazer.
O Google, claro, não ficou calado. Em um post em seu blog oficial, a empresa afirma que a ação judicial do Departamento de Justiça dos Estados Unidos é “profundamente falha”. Segundo a Big Tech, “as pessoas usam o Google porque escolhem fazê-lo, não porque são forçadas ou, porque não conseguem encontrar alternativas”. Além disso, o Google diz que o governo norte-americano apoia-se em argumentos antitruste duvidosos para criticar seus esforços de tornar a Busca disponível de modo mais fácil para as pessoas.
Mas, em última análise, essa disputa pode atingir a nós, usuários de smartphones de alguma forma? Spoiler: SIM!
No entanto, nada mudará para os consumidores no curto prazo. Os casos antitruste demoram anos e anos para avançar e gerar algum resultado. Tome como exemplo a Microsoft, sofreu uma ação semelhante da Justiça americana por causa de práticas anticompetitivas com o seu antigo navegador, o Internet Explorer. E a coisa toda rolou durante 13 anos até um acordo final entre as partes.
O fato é que antes do processo parar em um tribunal, o Google e o Departamento de Justiça se sentarão à mesa para tentarem chegar a um acordo e só essa etapa em si leva um bom tempo. Mas, caso as duas partes não se entendam, aí sim o caso vai parar na corte. E para que saia um resultado, a coisa toda levará anos e anos, principalmente por cauda das apelações que os dois lados usarão, caso não concordem com a decisão do juiz.
Mas caso o juiz emita uma decisão que force o Google a mudar suas práticas de negócios, ela impactará tanto os bilhões de usuários Android e outros serviços da “Big G’, quanto outras bilhões de pessoas que usam serviços concorrentes. Inclusive, o caso pode alterar a quantidade de dados que as pessoas fornecem ao Google ou afetar os aplicativos que vêm instalados nos telefones. Veja como isso pode acontecer:
Os contratos do Google
No cerne do caso aberto pelo Departamento de Justiça estão os contratos do Google com outras empresas, que definem o seu mecanismo de busca como a opção padrão em aparelhos como iPhones e os smartphones da Samsung. É um negócio dos bons e o Google paga bilhões de dólares por ano para garantir que o seu recurso de pesquisas seja o centro das atenções. Isso significa que a empresa está no controle do que as pessoas veem sempre que pesquisam por itens em seus telefones.
A reclamação do Departamento de Justiça foca especificamente no acordo do Google com a Apple. O primeiro paga à segunda de US$ 8 bilhões a US$ 12 bilhões em receita publicitária por ano para manter o seu mecanismo de busca como padrão.
É uma prioridade para ambas as empresas. O processo afirma que, em 2018, o CEO do Google, Sundar Pichai, e o CEO da Apple, Tim Cook, se reuniram para discutir como eles poderiam trabalhar juntos para gerar receita. Após a reunião, um funcionário da Apple teria escrito a um funcionário do Google: “Nossa visão é que trabalhemos como se fôssemos uma única empresa”.
O acordo é uma é muito bem-vindo para ambas as big techs: o processo diz que ele é responsável por 15% a 20% dos lucros anuais da Apple. Também afirma que quase metade do tráfego de busca do Google no ano passado veio de dispositivos com iOS O negócio é tão importante que caso o Google o perca, ele ativaria um cenário chamado de “Código Vermelho”, de acordo com a ação do Departamento de Justiça. Ou seja, a coisa ficaria bem preocupante para a gigante das buscas.
O preço dos smartphones
De acordo com o site CNET, em uma teleconferência realizada nessa semana, o Google argumentou que o acordo com a Apple ajuda a manter os preços dos telefones baixos.
A empresa disse que seus pagamentos à Maçã são parte do que ajuda a fabricante do iPhone a entrar no segmento inferior do mercado, algo que a Apple fez ao adicionar o iPhone SE, modelo de baixo custo, à sua linha.
Se a Apple não receber mais essa receita, analisa o Google, ela poderá repassar os custos junto aos consumidores, o que significa preços mais altos. O Google também argumenta que reduziu o preço de outros dispositivos ao fornecer seu sistema operacional móvel Android gratuitamente aos fabricantes de telefones.
Em entrevista a mesma CNET, Avi Greengart, analista-chefe da empresa de pesquisas Techsponential, diz que o argumento do Google faria sentido se fosse aplicado a qualquer fabricante de smartphones. No entanto, o Google estende a lógica ao falar apenas sobre o iPhone que, mesmo em sua versão mais “popular”, não é dos mais baratos se comparado a seus rivais na mesma categoria.
“A Apple não precisa obter esse dinheiro do Google. Ela poderia obter essa receita de outro pretendente, como a Microsoft , diz Greengart. “Não está claro para mim que os preços dos telefones subam [caso o Google perca o processo antitruste contra o governo dos EUA]”.
A Microsoft – que, como dissemos antes, foi alvo do Departamento de Justiça dos EUA, duas décadas antes do Google – torna o Bing, o concorrente de busca mais próximo do Google, embora esteja em um equidistante segundo lugar. O Bing detém 7% do mercado dos Estados Unidos, muito atrás dos 88% do Google.
A Microsoft também paga à Apple para ter o Bing em destaque nos dispositivos Apple, mas sem a mesma efetividade em termos de tráfego.
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