‘Bridgerton’ abre debate sobre avó negra de rainha Elizabeth que Windsor prefere esconder

Facundo Arrizabalaga / EPA

A Rainha Isabel II de Inglaterra

Disponível desde dezembro de 2020, a série Bridgerton, da Netflix, apresentou uma intérprete negra para viver a rainha Charlotte (1744 – 1818), a avó da rainha Elizabeth (1900 – 2002).

Apesar da falta de consenso geral sobre a etnia da esposa de George III (1738 – 1820), o serviço de streaming resolveu seguir a ampla corrente acadêmica que defende a descendência africana da soberana britânica.

Versão que não conta com o consentimento público da Casa de Windsor — a dinastia que reina até hoje no Reino Unido —, as origens negras dos antepassados de Charlotte ainda dividem os especialistas sobre o tema. Contudo, retratos antigos mostram a pele um pouco mais escura e o cabelo encaracolado da rainha do século 18.

Interpretada pela atriz Golda Rosheuvel, de 49 anos, a rainha Charlotte não aparece nos romances da escritora Julia Quinn, nos quais a adaptação da Netflix foi baseada. Logo, a escolha de Golda foi consciente e acordada entre a autora o serviço de streaming.

A árvore genealógica da rainha Charlotte

Responsável pelo estudo mais detalhado sobre a árvore genealógica de Charlotte, o historiador norte-americano Mario de Valdés y Cocom iniciou as pesquisas sobre a história da rainha britânica em 1967.

A investigação do pesquisador rastreou antepassados de Charlotte até chegar em Margarita de Castro e Souza, uma aristocrata do século 15 que descenderia do filho ilegítimo do rei Alfonso III, de Portugal, com sua amante Ouruana.

Para muito acadêmicos, Ouruana, por sua vez, teria sido uma moura de raça negra, originária do norte da África. Entre outras provas que sustentam a teoria, pode-se destacar o termo utilizado por um médico real da época para descrever a aparência de Charlotte (hoje, considerado racista) como “mulata”.

Da mesma forma, um primeiro-ministro da época teria seguido os estereótipos discriminatórios ao escrever “seu nariz [de Charlotte] é muito largo, e seus lábios, muito grossos”.

Por outro lado, outros estudiosos acreditam que a distância geracional é tanta que seria praticamente impossível que Charlotte tivesse herdado esses traços. Caricaturas da época preservadas no Museu Britânico também não refletem qualquer indício que leve a crer que a rainha fosse parda.

Sophia Charlotte de Mecklenburg-Strelitz foi filha de um duque e uma princesa alemães e se tornou rainha da Grã-Bretanha e Irlanda aos 17 anos, logo depois de se casar com George III, em Londres, como escreve o site da Família Real.

De qualquer forma, não se pode deixar esquecer dos esforços de nações brancas e aristocratas em embranquecer sistematicamente personalidades não brancas em registros históricos, como retratos, desenhos e pinturas, tais quais as feitas para representar Charlotte na época.

Posicionamento da família real Windsor

Na única ocasião em que a realeza britânica se posicionou sobre o assunto, um porta-voz oficial afirmou que a questão sobre as origens étnicas de Charlotte estão “cercadas de rumores há anos e anos, e é um assunto para a História”.

Sophia Charlotte de Mecklenburg-Strelitz foi filha de um duque e uma princesa alemães e se tornou rainha da Grã-Bretanha e Irlanda aos 17 anos, logo depois de se casar com George III, em Londres, como escreve o site da Família Real.

A série Bridgerton se tornou motivo de milhares de comentários nas redes e sociais e teve a segunda temporada confirmada pela Netflix nesta quinta-feira, 21/01.

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