Especialistas acreditam que medidas do governo francês para frear entrada de variante P1 no país são insuficientes e pressionam para aumento de controles de passageiros provenientes do Brasil nos aeroportos ou pela suspensão dos voos. O ministro francês dos Transportes, Jean Baptiste Djebbari, afirmou nesta segunda-feira que a França é obrigada a manter as conexões aéreas com o país.
“O Conselho de Estado nos disse que cidadãos franceses e residentes na França, em nome da liberdade de circulação, devem poder continuar a vir, o que não foi o caso de Portugal ou de outros países”, explicou.
Djebbari afirmou, em entrevista à tevê francesa LCI, que somente 50 pessoas vindas do Brasil chegavam diariamente no aeroporto Chales de Gaulle, na região parisiense, em dois voos diários, desmentindo o secretário de Estado encarregado de Assuntos europeus, Clément Beaune, que afirmou, no domingo (11), que o número de viajantes chegava a 1000.
O ministro também explicou que, para entrar na França, é necessário apresentar o resultado negativo do teste PCR e justificar um motivo de suma importância para a viagem. Esta última regra se aplica somente aos cidadãos franceses e residentes. Além destas medidas, desde segunda-feira, um novo teste é exigido de todas pessoas provenientes do Brasil na chegada à França.
Segundo a imprensa francesa, alguns viajantes usam testes negativos falsificados ou difíceis de serem verificados. Outro problema destacado pelos especialistas é que a quarentena não é obrigatória.
Eric Billy, pesquisador em imuno-oncologia e membro fundador do coletivo “Du côté de la science” (Do lado da ciência) pediu no Twitter a “aplicação de verdadeiras quarentenas” para os viajantes provenientes de lugares de risco.
Rémi Salomon, presidente da Comissão Médica dos Estabelecimentos de saúde pública de Paris (APHP), lembra que a variante brasileira P1 é mais contagiosa que a P117 britânica. “Se não fizermos nada para diminuir sua chegada, teremos uma bela quarta onda antes de ter vacinado o suficiente. Decidimos fazer alguma coisa?”, escreveu Salomon sobre um artigo do jornal Libération que afirma que vários voos provenientes do Rio e de São Paulo continuam a aterrissar na França e que os passageiros são submetidos às mesmas regras que os de outros países.
Fonte infecciosa
O ministro dos Transportes afirmou que era necessário desenvolver um “passaporte sanitário” para os voos internacionais. Dessa maneira seria possível “ter documentos confiáveis, porque efetivamente proliferam na Internet (…) pessoas que são totalmente irresponsáveis e que vendem” falsos resultados de testes PCR.
Já os especialistas defendem a aplicação de uma quarentena de 14 dias, obrigatória e vigiada. O virologista Vincent Maréchal explicou em entrevista ao jornal L’Express de domingo (11) que “pedir simplesmente um teste pode não ser suficiente”. De acordo com ele, o isolamento deveria “ser obrigatório antes que a variante se transforme em uma mancha de óleo”.
O virologista Bruno Lina, membro do Conselho científico do executivo francês, disse a L’Express que o Brasil “é uma fonte infecciosa que é necessário estancar”. Um objetivo difícil de conseguir quando os controles são feitos de maneira aleatória e as quarentenas não são vigiadas.
// RFI