Em um novo levantamento feito com dezenas de estudos publicados nos últimos 20 anos, cientistas avaliaram a interação entre os agroquímicos com as populações de insetos polinizadores em todo mundo — em especial, as abelhas.
Segundo eles, a combinação entre os vários pesticidas provoca um impacto muito maior nestes organismos do que a soma de seus efeitos individuais. Em outras palavras: a agricultura tem matado muito mais abelhas do que se pensava, e as consequências disso podem ser desastrosas.
As abelhas despenham um papel fundamental para a polinização, mas as novas evidências revelam uma crescente queda na população destes insetos em escala global. O novo estudo procurou entender a interação entre os agroquímicos, parasitas e desnutrição no comportamento desses animais.
Os pesquisadores descobriram que, quando os diferentes estressores se combinam, eles elevam a probabilidade de morte das abelhas.
O co-autor do artigo, Harry Siviter, da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, diz que os resultados demonstraram que o atual processo regulatório não protege as abelhas das consequências indesejáveis e mortais, diante da grande exposição a agroquímicos complexos.
“Continuar a expor as abelhas a vários estressores antrópicos na agricultura resultará no declínio contínuo das abelhas e seus serviços de polinização, em detrimento da saúde humana e do ecossistema”, acrescente Siviter.
Além disso, os insetos polinizadores enfrentam ameaças da agricultura de maneira intensiva, incluindo outros produtos nocivos como fungicidas e pesticidas, conforme ressalta Adam Vanbergen, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisa Agronômica da França.
Ele também destaca a redução de pólen e néctar de flores silvestres disponíveis para estes insetos em decorrência da destruição dos ecossistemas, e a importância de mais pesquisas sobre os outros polinizadores — os quais podem reagir aos estressores de maneiras diferentes.
A pesquisa foi publicada no dia 4 de agosto deste ano, na revista Nature.
A importância das abelhas para a nossa sobrevivência
De acordo com a Organização Mundial das Nações Unidas (ONU), as abelhas são responsáveis por cerca de 73% da polinização de plantas cultivadas, o que significa que, sem elas, não existiriam frutas silvestres, tomates, abacates e muitos outros alimentos que fazem parte do nosso cotidiano.
Enquanto polinizam, elas também desempenham esse serviço ambiental, contribuindo para a recuperação de ecossistemas.
A ausência de abelhas no planeta, ou simplesmente uma drástica redução em sua população mundial, implica em consequências não apenas para a nossa alimentação, mas para toda a cadeia alimentar. Por exemplo, são elas as responsáveis, em grande parte, pela polinização mundial da alfafa, amplamente utilizado para alimentação de gado. Sem elas, a alimentação de animais herbívoros fica comprometida, afetando até mesmo a produção de alimentos lácteos.
O fim das abelhas é quase um sinônimo para o fim dos ecossistemas terrestres, pois, sem a polinização delas, os alimentos de grande parte das aves, assim como muitas outras espécies de insetos e animais, acabaria. Cria-se, então, um grande efeito dominó que reduz os ecossistemas a quase nada.
Apesar disso, a presença delas é um ótimo indicador de saúde de um habitat, por serem um dos insetos mais sensíveis e que menos toleram as alterações climáticas. Então, um jardim repleto delas não é motivo de pânico, mas um bom sinal.
Infelizmente, no Brasil, só no ano passado foram registrados 493 novos agrotóxicos — o maior número já apontado pelo Ministério da Agricultura desde 2000. Este número representa um aumento de 4% em relação ao ano anterior, e os registros não param de subir desde 2016.
Em 2019, cientistas alertaram que quase metade de todas as espécies de insetos, em todo o mundo, estavam em declínio — desse total, um terço pode desaparecer por completo até o fim do século.
Estima-se que uma a cada seis espécies de abelhas já foi regionalmente extinta em algum lugar do mundo. Os especialistas acreditam que as principais causas dessa grande perda se deve ao uso de agroquímicos e à crescente destruição do meio ambiente.
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