No Afeganistão, as mulheres ainda podem ser condenadas à morte por não serem virgens

ricardo_mangual / Flickr

No Afeganistão, há uma lei de saúde pública que proíbe o teste de virgindade. No entanto, as mulheres continuam sendo obrigadas a fazê-lo. Consoante o resultado, as mulheres podem ser presas e até mortas.

Nesta quarta-feira (10), o Observador conta a história de Bahara (nome fictício). Há sete meses, a mulher de apenas 18 anos foi presa por falhar em um teste de virgindade.

A afegã conheceu um homem com quem falou ao telefone e trocou algumas mensagens, tendo até fugido de casa para se encontrar com ele, iludida com a ideia de que tinha encontrado um namorado. Mas não: o conto de fadas de Bahara acabou em estupro.

Bahara denunciou o caso à polícia, mas, em vez de receber apoio, foi submetida a um teste de virgindade, uma prática proibida no Afeganistão desde 2016, de acordo com o britânico The Guardian.

Fiz o teste em um quarto cheio de pessoas – médicos, enfermeiras, e até visitantes curiosos e outros pacientes que queriam observar mais de perto o meu corpo nu”, conta.

Uma médica usou os dedos para fazer o teste, com o intuito de confirmar se o hímen da jovem estava intacto. No entanto, como estava em período menstrual, Bahara foi submetida novamente ao tormento físico e emocional. “Estava menstruada e eles não conseguiram dar precisão os resultados”, contou.

A história termina com a prisão de Bahara por algo que, no país, é considerado um “crime moral”: a perda da virgindade antes do casamento.

Atualmente, a jovem está detida na prisão de Mazar-i-Sharif, na província de Balkh. Mas esse não é um caso isolado. São muitas as mulheres que foram presas em situações semelhantes.

Além disso, o fato de a proibição dos testes de virgindade não estar sendo respeitada, faz com que muitas jovens tenham um destino igual ao de Bahara, em um futuro mais próximo do que imaginamos.

Muitas vezes, essas “criminosas morais” são presas e condenadas à morte. O The Guardian acrescenta que a maioria dessas situações costumam ter na sua origem situações de violência doméstica, violência sexual e sexo forçado.

Apesar de ter sido proibido há dois anos, o teste de virgindade continua um medo muito presente na vida das mulheres afegãs. Aliás, a proibição não impediu a polícia de parar de prender mulheres e jovens mais novas para fazerem o teste.

Atualmente, há campanhas que pedem a aprovação de uma lei de saúde pública que proíba os testes de virgindade em hospitais e clínicas, de modo que a proibição traga, finalmente, mudanças significativas.

Mas leis não são tudo. Mesmo que as mulheres consigam sair da prisão, o estigma do seu “crime moral” permanecerá latente na sociedade. “Não tenho certeza de que vá conseguir voltar à sociedade e ter uma vida normal. Minha estada aqui destruiu a reputação da minha família e tenho muito medo de que meu pai me mate, assim que saia daqui”, desabafou a jovem.

Teste viola direitos humanos

“A análise do hímen não tem apenas um impacto psicológico negativo nas jovens e nas mulheres; é um teste perigoso e que, em alguns casos, causa dor física, danos no hímen, infecções e sangramento”, alerta a organização.

Mohammad Ashraf Bakhteyari, diretor da Organização de Ciência Forense do Afeganistão, uma organização não-governamental, afirma que o teste não só viola os direitos humanos, como o fato de as mulheres sangrarem não é, por si só, um sinal da existência ou ausência do hímen.

No entanto, essa não é uma informação que muita gente tenha conhecimento no Afeganistão, uma vez que poucos estudantes recebem educação sexual. Por esse motivo, Zahra Sepehr, diretor da organização Desenvolvimento e Apoio das Mulheres e Crianças Afegãs, defende uma mudança no programa escolar.

“Se a educação sexual não é ensinada em contexto acadêmico, nossas crianças vão aprender sobre isso através de pornografia e outras fontes não fidedignas. Essas conversas irão tornar os alunos mais esclarecidos e atentos ao corpo e irão também desencorajar os rapazes de infligir maus tratos às mulheres ou sentir desprezo por elas”, concluiu.

Ciberia // ZAP

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