A água apareceu na Terra logo após o nascimento do planeta, antes da colisão que criou a Lua, o que contradiz as ideias gerais sobre a evolução do planeta.
“O fato de a água da Terra ter sido capaz de ‘sobreviver’ o nascimento da Lua e o bombardeamento do nosso planeta por asteroides e cometas, aumenta significativamente as possibilidades de existência de vida extraterrestre“, explica Richard Greenwood da Universidade Aberta do Reino Unido, citado pela New Scientist.
“Descobrimos que a água é incrivelmente tenaz. Não desaparece, incluindo fundindo e vaporizando o planeta, algo que aconteceu na Terra e em muitos exoplanetas”, explica Greenwood em artigo publicado esta semana na revista Science Advances.
Anteriormente, os cientistas consideravam que a água foi trazida ao nosso planeta pelos asteroides e cometas que bombardearam a superfície da Terra há quase 3.800 milhões de anos.
No entanto, o recente estudo demonstrou que não é assim. Os investigadores descobriram que as primeiras reservas de água na Terra tinham aparecido muito antes, quase no momento do nascimento do planeta, depois de analisar os fragmentos de rochas lunares trazidas à Terra no âmbito do programa Apolo.
Passaporte planetário
Aos geólogos interessa especialmente a quantidade do oxigênio nestas rochas. De fato, as proporções de isótopos de oxigénio são uma espécie de “passaporte” dos corpos celestes, já que indicam onde e em que condições se formaram.
Assim, a sua comparação permite entender se determinados planetas, asteroides ou cometas apareceram no mesmo ponto do Sistema Solar ou em partes diferentes.
Guiada por esta ideia, a equipe de Greenwood comparou a proporção de isótopos de oxigênio em rochas lunares, meteoritos e amostras de rochas extraídas do fundo do oceano.
De acordo com o geólogo, eles esperavam ver uma diferença bastante significativa entre o nosso planeta e a Lua, já que o protoplaneta que deu lugar à Lua, Tea, se formou em outro ponto do Sistema Solar e tinha suas próprias reservas de água.
No entanto, a imagem real resultou ser bastante diferente. As proporções de isótopos de oxigénio nas rochas terrestres e lunares eram quase iguais: diferem em somente três partes em 1.000 milhões, o que equivale a 0.0000003%.
Isso significa duas coisas: a água esteve presente na Terra muito antes da sua colisão com Tea, e sobreviveu à colisão e à “destruição mútua”.
Por sua vez, a presença de pequenas diferenças nas proporções de isótopos de oxigénio sugere que os asteroides e cometas realmente “trouxeram” água à Terra, mas somente uma pequena parte das suas reservas atuais, cerca de 5%.
Ou seja, as suas reservas de água não poderiam de maneira nenhuma afetar a aparência do planeta e os volumes dos seus oceanos, que deveriam ter desaparecido quase imediatamente depois do nascimento da Terra.
Tal descobrimento, como assinalam os planetólogos, gera mais perguntas do que respostas. Agora não está claro como a água conseguiu sobreviver à colisão entre a Terra e Tea e o posterior bombardeamento do planeta por asteroides, nem por que não se evaporou durante as primeiras etapas da formação da Terra.
Os cientistas também supõem que é possível que o nosso planeta tenha nascido a uma distância muito maior do Sol do que se crê habitualmente.
Como muitas vezes acontece na ciência, os resultados de um novo estudo acabam por levantar mais dúvidas do que as que ajudaram a esclarecer.
Ciberia // Sputnik News / New Scientist