O almirante do Comando do Pacífico norte-americano, Scott H. Swift, declarou nesta quinta-feira (27) que está disposto a lançar um ataque nuclear contra a China, se o presidente Donald Trump ordenar.
Segundo o New York Times, Scott H. Swift respondeu dessa forma a uma questão hipotética que lhe foi colocada durante uma conferência sobre segurança, realizada na Universidade Nacional Australiana após o fim dos exercícios militares conjuntos que forças navais norte-americanas e australianas realizaram no sul do Pacífico nas últimas semanas.
“A resposta seria: sim“, respondeu Swift quando questionado por um participante na conferência sobre se lançaria um ataque nuclear contra a China, caso o presidente norte-americano, Donald Trump, lhe ordenasse.
“Todos os membros das Forças Armadas juraram defender a constituição do nosso país contra todos os inimigos, estrangeiros e internos, e obedecer aos seus superiores e ao presidente dos Estados Unidos, na sua qualidade de Comandante Chefe”, justificou o almirante.
“Este é o princípio base da nossa democracia: o controle civil sobre os militares. E sempre que um militar se afasta desta perspectiva fundamental, temos um problema”, explicou Scott H. Swift.
“O almirante não endereçava a premissa essencial da questão, estava realçando o princípio da autoridade civil sobre os militares”, explicou mais tarde o porta-voz da Frota do Pacífico, capitão Charlie Brown. “A premissa da questão é ridícula”, concluiu.
O almirante Scott Harbison Swift, nascido em 1957, serve atualmente na Marinha dos Estados Unidos, sendo o comandante da Frota Naval norte-americana no Pacífico desde maio de 2015.
À luz da Constituição dos Estados Unidos, a recusa do almirante Swift em desobedecer a Donald Trump é correta: o presidente norte-americano tem autoridade exclusiva para ordenar uma ação militar que poderia provocar a morte de milhões de pessoas em menos de uma hora.
Dado o temperamento impulsivo do atual titular do cargo, quais seriam as salvaguardas – se existirem – para impedir uma decisão impetuosa sua com consequências catastróficas?
“Não há travões ou contrapesos na autoridade do presidente para lançar um ataque nuclear”, explicou à BBC Mark Fitzpatrick, especialista em não proliferação de armas nucleares do Instituto Internacional para Estudos Estratégicos, em Washington. “No final, a autoridade individual para lançar um ataque é do presidente”, disse.
Mas, explica o especialista, a ideia de um presidente intempestivo a tomar individualmente uma enorme decisão como essa não é realista. “Entre o momento em que o presidente autoriza (na realidade, ordena) um ataque e o instante em que ele é realmente executado, há muitas pessoas envolvidas”, declarou.
Se o presidente desse a ordem, o secretário de Defesa seria obrigado a cumpri-la. Mas, em teoria, poderia recusar obedecer se tivesse razões para duvidar da sanidade do presidente – o que poderia ser considerado um motim. O presidente poderia então destituir o secretário de Defesa e encarregar o vice-secretário de Defesa de cumprir a ordem.
Segundo a Constituição dos Estados Unidos, o vice-presidente poderia também, em teoria, declarar o presidente psicologicamente incapaz de tomar a decisão, e bastaria para tal que tivesse o apoio da maioria do gabinete de governo norte-americano.
Assim, para que um presidente “louco” pudesse mesmo lançar o mundo numa guerra nuclear, teria que estar rodeado de um grupo de pessoas igualmente loucas – o que, diga-se de passagem, já pareceu menos improvável.
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