A situação da epidemia de coronavírus no Brasil passou a ser observada com grande preocupação por parte da comunidade internacional.
As cenas bizarras observadas em Manaus e o crescimento exponencial de casos e mortes – mesmo com a subnotificação – nos grandes centros urbanos, como São Paulo e Rio de Janeiro, apontam que o Brasil pode ser o novo epicentro mundial da pandemia.
Com o reconhecimento do Ministério da Saúde e de diversos estados, já se sabe que há uma grande subnotificação de casos no nosso país. Segundo o Laboratório de Inteligência em Saúde, o número de casos no Brasil pode superar 1,6 milhão, índice que ultrapassaria os EUA (primeiro no ranking de infectados) e colocaria nosso país como principal foco da Sars-Cov-2.
Outro problema é que apenas 32% dos Estados comunicam informações completas sobre a situação da epidemia, como o número de testes disponíveis ou o quadro dos pacientes, segundo a OKBR.
Uma reportagem do Wall Street Journal define bem a situação brasileira: “O Brasil já é o epicentro global do coronavírus. Estudo da Universidade de São Paulo aponta que o número de infeções no Brasil já pode ter atingido 1,6 milhão. Isso significa que o país pode já ter mais casos que os Estados Unidos. O Brasil testou apenas cerca de 1.600 por milhão de pessoas, muito abaixo dos 20.200 testes por milhão realizados nos EUA até agora, segundo a empresa de pesquisa Statista”.
A demora para aquisição de testes e a baixa taxa de isolamento social (em São Paulo, cidade mais afetada pela doença, nível chegou a 46% no meio de abril, voltando a subir para 59% neste fim de semana) são alguns dos fatores que justificam o alto espalhamento do vírus.
Manifestações contra a quarentena nas últimas semanas em São Paulo, em Brasília e outras cidades do país também mostram que a situação pode piorar drasticamente.
“Se você for ver as minhas previsões feitas em março, antes mesmo do comitê científico ser criado, eu já dizia que o Brasil dava toda a impressão de ser, depois dos Estados Unidos, o novo epicentro da crise mundial. É bem claro para mim que o Brasil será o novo centro mundial da covid. Se você olhar e projetar as curvas, o Brasil tem uma subnotificação enorme, então os nossos números de casos reais devem ser de 10 a 12 vezes maiores do que o oficial.”, afirmou Miguel Nicolelis, neurocientista e professor da Universidade de Duke, nos EUA, ao Jornal do Comércio.
No Rio de Janeiro, mais de 300 pessoas com suspeita de covid-19 estão no aguardo de uma vaga na UTI. A taxa de ocupação de leitos no Sistema Único de Saúde é de 97%. Somente o Hospital Zilda Arns, em Volta Redonda, na região sul do estado, possui vagas de tratamento intensivo. A cidade de São Paulo, que tem o maior número de leitos hospitalares no país, já registra uma taxa de ocupação de 89% e vai começar a transferir internados por covid-19 para o interior paulista.
Em Manaus, o número de mortos é 108% maior do que a média do período, segundo o estudo de um infectologista para o G1 Amazonas. No período entre 15 de março e 25 de abril, a média era 1.277 de falecidos na capital amazoneses entre 2016 e 2019. Durante a pandemia, o índice foi de 2.653. Foram 1.376 mil mortes a mais. Apenas 246 notificadas como o novo coronavírus.
Átila Iamarino, uma das principais vozes da divulgação científica durante a pandemia, acredita que em breve o lockdown – que colocaria uma obrigação legal de manter as pessoas em casa – seria tomada pelas autoridades. Nessa semana, a Ilha de São Luís, no Maranhão, adotou a medida. Outras cidades, como Belém (PA), também estudam a possibilidade.
“O Brasil está perdendo 90% dos seus casos. Se não é o pior país, é o segundo pior. A gente retomou a um crescimento que parece o começo da pandemia, com entre dois e três infectados por pessoa infectada e estamos com um caso de subnotificação seríssimo de 90%”, afirmou o biólogo em uma live.
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