A Cambridge Analytica, acusada de recolher dados pessoais de 50 milhões de utilizadores do Facebook, teve um “papel decisivo” no referendo sobre o Brexit, afirmou o ex-funcionário da empresa Christopher Wylie.
Em entrevista a vários jornais europeus, Wylie, que denunciou a polêmica, foi questionado sobre a saída do Reino Unido da União Europeia, se teria sido aprovada pelos eleitores britânicos em 2016 sem a interferência da Cambridge Analytica.
“Não, eles tiveram um papel decisivo, tenho a certeza“, disse Wylie, que foi diretor de pesquisa na empresa, em entrevista publicada nos jornais franceses Libération e Le Monde, no alemão Die Welt, no espanhol El País e no italiano La Repubblica, entre outros.
“É perfeitamente aceitável dizer que, sem trapaça, o resultado do referendo teria sido diferente”, acrescentou Wylie.
Na entrevista, o denunciante afirma que a empresa canadense Aggregate IQ (AIQ) trabalhou com a Cambridge Analytica para ajudar a campanha a favor do Brexit, a “Leave EU”.
“Sem a Aggregate IQ, a campanha do Leave não teria conseguido ganhar o referendo, que foi decidido por menos de 2% dos votos”, disse.
Wylie defende que “é preciso arrumar o Facebook, não eliminá-lo” e recusa a opinião daqueles que aconselham os internautas a apagarem a conta da rede social: “Tornou-se impossível viver sem essas plataformas, mas é preciso enquadrá-las”.
O ‘whistleblower’ (expressão inglesa que designa aqueles que denunciam ilegalidades em nome do interesse público) conta por outro lado as circunstâncias da contratação em 2013 pela SCL, a “casa-mãe” da Cambridge Analytica.
Segundo contou ao Le Monde, foi descoberto mais tarde que seu antecessor “morreu em condições não explicadas em um quarto de hotel em Nairóbi, quando trabalhava para Uhuru Kenyatta”, o atual presidente do Quênia.
Wylie reitera por outro lado o envolvimento com a empresa britânica de Steve Bannon, antigo conselheiro do presidente norte-americano, Donald Trump, e antigo diretor do site de extrema-direita norte-americano Breitbart. “Bannon vinha a Londres pelo menos uma vez por mês”, disse ao Libération.
Ciberia, Lusa // ZAP