Um estudo recente demonstra que somos peritos em esquecer o “lado mau” no que diz respeito ao consumo. Isto é, temos tendência a nos esquecer seletivamente dos detalhes desagradáveis dos produtos que compramos.
O estudo foi feito por pesquisadores da Universidade de Ohio, da Universidade do Texas, e o resultado publicado no Journal of Consumer Research.
Em uma das experiências, os pesquisadores desafiaram mais de 200 participantes a memorizar descrições de seis tipos de mesas diferentes, como o preço, o nome da marca, a descrição, e o tipo de madeira – se madeira de florestas tropicais ameaçadas de extinção ou oriunda de uma exploração sustentável de árvores.
Em seguida, os participantes tiveram que anotar os detalhes e 94% se lembrava do tipo de madeira. Foi então que os pesquisadores os distraíram para que executassem exatamente o mesmo teste de memória 20 minutos depois.
Após as distrações, notaram que os participantes eram menos propensos a mencionar o tipo de madeira usado na fabricação das diferentes mesas do que a mencionar outros detalhes.
Segundo o Gizmodo, Daniel Zane, um dos autores do estudo, admite que os participantes “têm tendência a se esquecerem do padrão sistemático”. Lembram-se dos atributos de qualidade e preço das mesas, mas são os “atributos étnicos que fazem com que as pessoas sejam intencionalmente ignorantes“.
Em experiências posteriores, o mesmo padrão se manteve. Desta vez, os indivíduos recrutados online através do Mechanical Turk da Amazon, eram menos propensos a lembrar se um determinado par de calças jeans tinha sido fabricado pelo trabalho infantil ou não.
Estes “esquecimentos” não são intencionais, mas sim um mecanismo de reação. “As pessoas evitam se sentir desconfortáveis quando confrontadas com a ética por trás dos produtos que compram. Contudo, sentem também que deveriam fazer o que é certo”, explica Zane.
Assim, acabam tomando a terceira opção e se esquecem completamente das informações que as perturba.
No entanto, a estratégia não parece se aplicar às opções de compra. Um estudo de 2016, referenciado pelos autores, sustenta a ideia de que as pessoas tendem a se esquecer mais frequentemente de ações antiéticas tomadas no passado do que as do presente.
Nosso “esquecimento seletivo” pode também nos ajudar a ser menos julgados. Outro estudo provou que as pessoas julgavam moralmente menos alguém que parecia se esquecer de informações negativas sobre um produto do que alguém que sabia, mas simplesmente ignorou.
O conselho que os autores do estudo deixam às pessoas que querem ter uma “memória menos egoísta” é que não se deixem levar pelo esquecimento. “Por exemplo, se acredita que um produto foi feito de forma eticamente questionável, não o deixe no seu carrinho de compras nem diga a você mesmo que pensará no assunto mais tarde”, adverte Zane.
Conforme explica o pesquisador, haverá a possibilidade de se esquecer. “Não confie na memória se quiser ter certeza de que está fazendo compras consistentes com seus valores – tome o tempo necessário no local da compra para se certificar de que o produto é tão ético quanto pensa.”
Os pesquisadores ressalvam também que esta é uma estratégia que as “empresas éticas” devem adotar. “Lembrar os consumidores no local de compra que o produto é ético é uma forma de evitar que os clientes confiem na memória”, acrescenta Zane.
Ciberia // ZAP