Uma profunda investigação da Folha de São Paulo sobre as condições de trabalho de imigrantes durante a pandemia do novo coronavírus mostrou que costureiras podem receber até R$ 0,05 por máscara confeccionada.
Isso mesmo que você leu: para produzir uma máscara que pode ser vendida por preços altos, as trabalhadoras fabris que confeccionam o equipamento de proteção mais importante no combate ao novo coronavírus podem receber até 5 centavos por peça.
Com a queda da demanda das fábricas e a retração econômica causada pelo combo de pandemia e ineficiência do governo, o preço pago pelos serviços de costura diminuiu muito.
As produções, em sua maioria dominadas por imigrantes de Bolívia e Paraguai, têm condições insalubres de trabalho. A concorrência de baixo preço tem acabado com os rendimentos de famílias imigrantes, que estão em situação de completa vulnerabilidade no país.
Se o trabalho em condições análogas a escravidão era comum no pré-pandemia, a derrocada econômica e a demanda intensiva por equipamentos de proteção como aventais e máscaras esticou ainda mais a corda da já precarizada massa de trabalhadores imigrantes do mercado de confecção, especialmente na região de São Paulo.
“Eles te pressionam, ficam te ligando dizendo: ‘Você tem que me entregar, comigo não tem brincadeira’. Tem dia que trabalhamos das 6h30 até as 4h do dia seguinte, com um descanso de 20 minutos”, diz ela. “Temos crianças em casa, não podemos trabalhar dessa maneira. Mas às vezes temos que aceitar porque, se não, como vamos seguir adiante?”, contou uma trabalhadora à Folha.
A apuração da jornalista Flávia Mantovani ainda descobriu que o preço dos contratos pode chegar ao custo de 5 centavos por máscara, variando entre 40 e 60 centavos, em média. Além disso, foram registrados calotes na casa dos milhares de reais que colocaram famílias em situação de risco. Serve também para nos trazer a reflexão:
“É um trabalho que parece fácil à primeira vista, mas dependendo do modelo de máscara é difícil de fazer. O avental, então, é como uma peça de roupa normal, demora até 40 minutos. Se fizer muito rápido não fica bom. E temos que tomar muito cuidado com a higiene, não pode cair um fio de cabelo na peça, porque vai para hospital”, afirmou uma das trabalhadoras à Folha, em anonimato.
A reportagem descobriu que com a pandemia, os preços das máscaras aumentaram e os atravessadores – negociantes que fazem os contratos com os hospitais e terceirizam a produção – podem levar R$3 por máscara, triplicando seu lucro sem repassar nada para os trabalhadores imigrantes, que se arriscam para poder sobreviver.
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