O Google recentemente anunciou uma novidade que pode mudar o futuro do trabalho e da educação. A empresa está lançando uma seleção de cursos profissionalizantes que ensinam habilidades fundamentais a profissionais da área de tecnologia.
O programa, que engloba três cursos (Gerenciamento de Projetos, Analista de Dados e Designer UX), está sendo chamado pela empresa de Google Career Certificates, e pode ser completado em apenas seis meses – prazo bem menor se comparado aos cursos disponibilizados pelas instituições educacionais tradicionais.
“Diplomas de universidades estão fora do alcance de muitos americanos e eles não deveriam precisar de um para ter segurança econômica”, escreveu no Twitter Kent Walker, vice-presidente sênior para assuntos globais do Google. “Nós precisamos de novos e acessíveis treinamentos profissionalizantes – de programas de aprimoramento vocacional a educação online – para ajudar a américa a se reconstruir e recuperar”, disse.
Walker ainda escreveu algo que dá indícios das intenções do Google ao lançar programas profissionalizantes no mercado: “em nosso próprio recrutamento vamos tratar esses certificados de carreira como equivalentes a um diploma de quatro anos para funções relacionadas”.
A empresa não revelou o valor dos cursos, apesar de informar que serão bem mais baratos que os tradicionais, e também não informou quando estarão prontos para contratação. No entanto, ao acessar o site é possível deixar seus dados para receber notificações de disponibilidade. Até o momento, eles só poderão ser acessados nos Estados Unidos e, ao Canaltech, a assessoria de imprensa do Google informou que ainda não há previsão de estreia dos cursos no Brasil, mas pessoas do mundo inteiro poderão cursar o programa desde que saibam inglês.
A título de comparação, a empresa oferece atualmente um curso de suporte profissional de TI pela plataforma Coursera que custa US$ 49 por mês, o que daria cerca de US$ 300 (cerca de R$ 1,6 mil) se fosse contratado por seis meses – tempo estimado para finalização do novo programa profissionalizante.
Se a companhia seguir estes valores, o Google Career Certificate será muito mais barato do que qualquer universidade. Aliás, o valor total do curso seria correspondente ao montante que alguns estudantes universitários gastam em livros didáticos em um único semestre.
Desafio às universidades
O ensino superior nos Estados Unidos, nos moldes que é hoje, tem os dias contados e, apesar de o anúncio da gigante da internet não ser o ultimato para as universidades, representa um movimento com grande potencial para mudar o futuro da educação e do trabalho – não somente por lá.
Uma das maiores críticas em relação às instituições educacionais tradicionais – tanto nos EUA quanto em outros países, incluindo o Brasil – é o fato de que as universidades não preparam os alunos para o mundo real. As habilidades que os estudantes precisam em suas funções são frequentemente adquiridas por outros meios – seja pela experiência de anos na carreira ou cursos extras. Além disso, alunos acabam assumindo grandes dívidas para pagar os estudos e, muitas vezes, não encontram trabalhos que paguem o suficiente para quitá-las.
O que o Google está propondo é preparar estudantes para assumirem altas posições imediatamente após o término do curso, pagando bem menos e sem necessidade de graduação prévia. “O novo Google Career Certificate se baseia em nossos programas existentes para criar caminhos em TI para pessoas sem diploma universitário”, finalizou o executivo.
O Google ainda informou que vai financiar 100 mil bolsas de estudos dentro do programa e dará suporte aos formandos para que achem empregos adequados. Os participantes poderão compartilhar suas informações diretamente com os principais empregadores dos EUA, como Walmart, Best Buy, Intel, Bank of America, Hulu e, claro, o próprio Google.
Segundo o presidente do conselho da Ânima Educação, Daniel Castanho, as faculdades precisam se reinventar, mas sua proposta de valor vai além de uma prateleira de conteúdo. O ambiente acadêmico oferece ainda interação, desenvolvimento de competências, networking, trocas culturais e etc. Para ele, as propostas de inovação e renovação educacional serão complementares.
“O futuro da universidade será baseado em nanodegrees que constituem um ecossistema, uma constelação de competências. O aluno vai construindo seu próprio percurso formativo, mas é muito mais do que uma capacitação em algumas semanas”, disse ao Brazil Journal.
Já para Antônio Colaço Martins Filho, chanceler do UNIFAMETRO (CE) e diretor executivo de ensino do Centro Universitário UNIESP, no momento em que lançam programas de seis meses que, em termos de conteúdo e empregabilidade/trabalhabilidade, pretendem ser menos onerosos e mais valorizados pelos empregadores do que cursos de graduação tradicionais, é essencial ter uma atenção especial ao que motiva cada estudante a se matricular.
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