Desmatamento da antiga civilização maia ainda afeta a América Central

Daniel Schwen / Wikimedia

Pirâmide de Kukulcán, na cidade maia de Chichen Itza, no México

Antes do seu misterioso colapso, há mais de mil anos, a civilização maia foi uma das populações mais densas da história da humanidade. Mas, à medida que a civilização antiga florescia na Península de Yucatán, iam sendo deixadas marcas nefastas no meio ambiente – que ainda hoje afetam a América Central.

Um novo estudo, publicado nesta segunda-feira na revista Nature, mostra que os séculos de desmatamento realizado pela civilização maia mudaram drasticamente a capacidade das florestas locais em armazenar carbono no solo.

Atualmente, as reservas de carbono não estão completamente recuperadas na região – mesmo milhares de anos depois de a cidades maias terem sido abandonadas e as florestas terem voltado a crescer.

O estudo alerta para o desmatamento desconcertante que acontece nos dias de hoje nos trópicos, em uma escala que assustaria até a própria civilização maia. A pesquisa sugere ainda que tais comportamentos podem ter sérias repercussões nos níveis futuros de gases de efeito estufa.

“Hoje, quando vamos à região de Yucatán, grande parte da região parece ter uma floresta tropical densa e antiga”, disse o autor principal e geoquímico Peter Douglas.

Esclarecendo, contudo, que “quando se olha para o armazenamento de carbono no solo, parece que o solo foi fundamentalmente modificado e nunca voltou ao estado original“.

A importância do solo

O solo é uma peça-chave na pesquisa sobre as mudanças climáticas, uma vez que é capaz de armazenar uma quantidade impressionante do carbono – mais que o dobro da quantidade existente na atmosfera da Terra.

Quando as plantas morrem, o carbono que elas retiram da atmosfera é transferido diretamente para o solo. E, se o carbono da planta se ligar a um mineral, pode ficar no solo durante milhares de anos.

Esse é o tipo de carbono que Douglas e sua equipa planejam investigar. Pois, embora as reversas no solo tenham sido estudadas durante décadas, os cientistas ainda não têm a certeza do que acontece com estas reservas em períodos maiores de tempo, que abrangem séculos ou até mesmo milênios.

Para a pesquisa, a equipe analisou sedimentos retirados de três lagos nas planícies maias e identificou moléculas específicas nas amostras, chamadas de ceras vegetais, que se ligam a minerais e ficam armazenadas no solo por um longo período de tempo. A idade destas moléculas e das plantas fósseis circundantes foi determinada através do método de datação por radiocarbono.

As conclusões sugerem uma redução de 70 a 90% na idade das ceras vegetais e estas mudanças coincidem com os padrões de uso de terras e solos dos antigos maias. As descobertas implicam que, após o desmatamento maia, o carbono era armazenado no solo por muito menos tempo.

“Analisando estes dados em conjunto, percebemos que havia um importante conjunto de dados ligados ao desmatamento da civilização maia e às mudanças no reservatório de carbono no solo”, explicou Douglas.

As descobertas não só são importantes para melhor compreender o passado, como também fornecem orientações e avisos para o futuro. Resumidamente, plantar árvores é uma ótima iniciativa, mas, se o desmatamento causar danos significativos nas reservas de carbono, pode ser em vão.

Os cientistas esperam agora conseguir aplicar a mesma pesquisa a uma escala global.

“Seria excelente analisar outras florestas tropicais do mundo para perceber se emergem os mesmos padrões – e para observar se o desmatamento humano do passado e a agricultura tiveram impacto sobre os reservatórios de carbono no solo a nível global”, concluiu.

Ciberia // ZAP

COMPARTILHAR

DEIXE UM COMENTÁRIO:

Como é feito o café descafeinado? A bebida é realmente livre de cafeína?

O café é uma das bebidas mais populares do mundo, e seus altos níveis de cafeína estão entre os principais motivos. É um estimulante natural e muito popular que dá energia. No entanto, algumas pessoas preferem …

“Carros elétricos não são a solução para a transição energética”, diz pesquisador

Peter Norton, autor do livro “Autonorama”, questiona marketing das montadoras e a idealização da tecnologia. Em viagem ao Brasil para o lançamento de seu livro “Autonorama: uma história sobre carros inteligentes, ilusões tecnológicas e outras trapaças …

Método baseado em imagens de satélite se mostra eficaz no mapeamento de áreas agrícolas

Modelo criado no Inpe usa dados da missão Sentinel-2 – par de satélites lançado pela Agência Espacial Europeia para o monitoramento da vegetação, solos e áreas costeiras. Resultados da pesquisa podem subsidiar políticas agroambientais Usadas frequentemente …

Como o Brasil ajudou a criar o Estado de Israel

Ao presidir sessão da Assembleia Geral da ONU que culminou no acordo pela partilha da Palestina em dois Estados, Oswaldo Aranha precisou usar experiência política para aprovar resolução. O Brasil teve um importante papel no episódio …

O que são os 'círculos de fadas', formações em zonas áridas que ainda intrigam cientistas

Os membros da tribo himba, da Namíbia, contam há várias gerações que a forte respiração de um dragão deixou marcas sobre a terra. São marcas semicirculares, onde a vegetação nunca mais cresceu. Ficou apenas a terra …

Mosquitos modificados podem reduzir casos de dengue

Mosquitos infectados com a bactéria Wolbachia podem estar associados a uma queda de 97% nas infecções de dengue em três cidade do vale de Aburra, na Colômbia, segundo o resultado de um estudo realizado pelo …

Chile, passado e presente, ainda deve às vítimas de violações de direitos humanos

50 anos após a ditadura chilena, ainda há questões de direitos humanos pendentes. No último 11 de setembro, durante a véspera do 50° aniversário do golpe de estado contra o presidente socialista Salvador Allende, milhares de …

Astrônomos da NASA revelam caraterísticas curiosas de sistema de exoplanetas

Os dados da missão do telescópio espacial Kepler continuam desvendando mistérios espaciais, com sete exoplanetas de um sistema estelar tendo órbitas diferentes dos que giram em torno do Sol. Cientistas identificaram sete planetas, todos eles suportando …

Em tempos de guerra, como lidar com o luto coletivo

As dores das guerras e de tantas tragédias chegam pelas TV, pelas janelinhas dos celulares, pela conversa do grupo, pelos gritos ou pelo silêncio diante do que é difícil assimilar e traduzir. Complicado de falar …

Pesquisa do Google pode resolver problemas complexos de matemática

O Google anunciou uma série de novidades para melhorar o uso educativo da busca por estudantes e professores. A ferramenta de pesquisa agora tem recursos nativos para resolver problemas mais complexos de matemática e física, inclusive …