Uma sepultura encontrada na antiga cidade maia de Copán, em Honduras, tinha no seu interior os restos mortais de uma jovem com as pernas cruzadas. Curiosamente, a jovem não estava “sozinha” – ao seu lado, foram encontrados ossos de dois veados e de um crocodilo.
No entanto, as surpresas não ficam por aqui: de acordo com os pesquisadores, foi também encontrado um esqueleto completo de um puma na sepultura, aparentemente abatido como parte do ritual fúnebre.
Segundo o estudo, publicado nesta quinta-feira (13) na PLOS, os cientistas acreditam que o felino pode ter sido domesticado pela civilização antiga, explicando que o puma fazia parte de um vasto esquema de domesticação de grandes felinos.
O mesmo documento nota que todos os restos mortais encontrados estavam na sepultura desde o ano 435 d.C – inicio da história maia.
“Os ossos de jaguares e pumas encontrados na zona maia de Cópan evidenciam a existência tanto de cativeiro quanto grandes redes de comércio” durante a civilização maia, disse em comunicado Nawa Sugiyama, arqueóloga da Universidade George Manson, nos Estados Unidos, e principal autora do estudo.
As novas descobertas vão de encontro com pesquisas anteriores, que já revelavam que as culturas mesoamericanas mantinham animais selvagens em cativeiro para uso posterior em rituais. Além disso, ficou também confirmado que as redes de comércio de animais na Mesoamérica antiga eram bem mais extensas do que se pensava até então.
Sepultamentos com animais exóticos
Não é incomum para os arqueólogos encontrar restos de grandes felinos e outros animais em cidades mesoamericanas. Perto de um altar em Copán, onde se faziam os sacrifícios com animais, os cientistas encontraram vestígios de grandes felinos tão compactados que acabaram chamando-os de “cozido de onça”, revela o artigo.
No entanto, esses animais revelaram detalhes além dos próprios rituais. Apesar de já se saber que as populações de Copán tinham conseguido domesticar cães e perus, as novas análises realizadas nos ossos dos felinos e outros animais, revelaram que os animais eram mantidos e criados em cativeiro.
A pesquisa revelou que pelo menos alguns dos animais não viviam na natureza, ou seja, não foram caçados, mas antes mantidos e alimentados como animais domésticos – o que significa que os primeiros mesoamericanos tiveram e comercializaram grandes felinos e outros animais muito antes do que os arqueólogos imaginavam.
Além de pumas e jaguares, veados e pássaros também eram comercializados na época em Copán, evidenciando que houve grande comércio de animais na América do Sul há mais de mil anos. Milhares de anos depois, a mítica civilização maia continua a revelar (alguns) dos seus mistérios.
Ciberia // ZAP