Cerca de dois terços das mutações que causam câncer se devem a “erros” que ocorrem ao acaso durante a replicação do DNA, segundo um estudo publicado nesta quinta-feira pela revista especializada “Science”.
Uma nova pesquisa, feita pelos cientistas Cristian Tomasetti e Bert Vogelstein, do Johns Hopkins Kimmel Cancer Center, dos Estados Unidos, se baseia em um novo modelo matemático baseado no sequenciamento do DNA e em dados epidemiológicos recolhidos em todo o mundo.
Os mesmos dois pesquisadores já tinham divulgado conclusões semelhantes numa pesquisa de 2015. A nova pesquisa foi publicada esta sexta-feira (24) na revista Science.
“É bem sabido que devemos evitar fatores ambientais, como fumar, para diminuir o risco de contrair câncer. No entanto, não é tão sabido que, cada vez que uma célula normal se divide e replica seu DNA para produzir duas novas células, comete múltiplos erros“, afirmou Tomasetti, professor de bioestatística.
Esses equívocos são uma “potente fonte de mutações cancerígenas que historicamente foram subestimadas do ponto de vista científico”, por isso o novo estudo apresenta a “primeira estimativa da fração das mutações causadas por esses erros”.
Os autores da pesquisa incentivam a população a evitar agentes ambientais ou estilos de vida que aumentam o risco de sofrer um câncer, mas, mesmo assim, muitas pessoas terão a doença pela natureza perigosa desses erros genéticos.
Nesse contexto, ressaltou Vogelstein, codiretor do Ludwig Center, são “urgentemente” necessários métodos para detectar o câncer mais cedo, “enquanto é ainda curável”.
Os cientistas admitem que suas conclusões estão de acordo com estudos epidemiológicos que indicam que aproximadamente 40% dos cânceres podem ser prevenidos caso sejam evitados entornos ou estilos de vida pouco saudáveis.
Tomasetti e Volgesltein enfatizam que o estudo demonstra que o câncer, às vezes, atinge pessoas que cumprem todas as regras de uma vida saudável – não fumar, dieta equilibrada, peso ideal e exposição pouca ou nula a agentes cancerígenos – e que não têm um histórico familiar da doença.
Essa situação suscita com frequência no paciente a pergunta “por que eu?“, para a qual os especialistas dizem ter achado a resposta: erros ao acaso na replicação do DNA. “Esses cânceres serão produzidos independentemente do quão perfeito for o ambiente“.
Os pesquisadores chegaram a essa conclusão após analisarem as mutações que provocam um crescimento anormal das células em 32 tipos de câncer, nos quais 65% das mutações cancerígenas resultaram dos erros na replicação do DNA.
Segundo os autores do estudo, são necessárias em geral duas ou mais mutações de genes críticas para que se desencadeie um câncer. Em uma pessoa, essas mutações podem se dever a erros ao acaso em replicação do DNA, ao ambiente ou a genes herdados.
Tendo essa circunstância em conta, os cientistas usaram seu modelo matemático para mostrar, por exemplo, que no caso do câncer de pâncreas, 77% das mutações se devem a erros ao acaso na replicação do DNA.
Em outros tipos de câncer, como o de próstata, o cerebral e o nos ossos, mais de 95% das mutações ocorrem devido a essa mesma causa. Vogelstein acredita que o estudo deveria consolar os pacientes que evitaram os fatores de risco.
“Não é culpa sua. Nada do que fez ou não fez foi responsável por sua doença”, afirmou.
// EFE