Julho de 2020 foi um mês agitado: três missões foram lançadas com destino ao Planeta Vermelho e, entre elas, está a missão Mars 2020, da NASA, levando consigo o rover Perseverance e helicóptero Ingenuity rumo a Marte.
A ideia é que o Perseverance busque bioassinaturas, ou seja, possíveis sinais de vida no Planeta Vermelho. Em pouco mais de uma década, receberemos amostras do solo marciano para serem analisadas
. Entretranto, pesquisadores da Universidade Cornell, nos Estados Unidos, e Centro de Astrobiología, da Espanha, alertam em um estudo recente que os sinais — se existirem — podem ter sido destruídos.
A argila presente na superfície de Marte poderia proteger o material molecular das possíveis formas de vida. Entretanto, o planeta já conteve fluidos ácidos que podem ser responsáveis por destruir as evidências biológicas escondidas nas rochas marcianas.
Para testar essa possibilidade, os pesquisadores simularam as condições da superfície marciana para tentar preservar a glicina, um aminoácido, em argila exposta aos fluidos ácidos.
A glicina foi escolhida porque poderia se degradar rapidamente sob as condições ambientais do planeta, explica Alberto G. Fairén, autor correspondente e, por isso, seria a informante perfeita para “denunciar” as possíveis consequências.
Depois de uma longa exposição à radiação ultravioleta semelhante àquela de Marte, os pesquisadores observaram que houve fotodegradação das moléculas da glicina. “Quando a argila é exposta a fluidos ácidos, suas camadas colapsam e a matéria orgânica não é preservada; elas são destruídas”, explica.
Na busca de vida em Marte, o solo de argila na superfície do planeta é um dos favoritos na busca por vida por ser um possível abrigo para elas.
Entretanto, a presença de ácido na superfície do planeta poderia comprometer a proteção que a argila poderia fornecer: “sabemos que os fluidos ácidos fluíram na superfície de Marte no passado, alterando a argila e a capacidade de proteger a vida orgânica”, diz Fairén. Assim, os resultados indicam a dificuldade para encontrar componentes orgânicos em Marte.
O artigo com os resultados do estudo foi publicado na revista Nature Scientific Reports.
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