Desde o início de maio, a política de imigração de “tolerância zero” do governo de Donald Trump resultou na detenção de mais de 2 mil crianças, segundo o Departamento de Segurança Interna (DHS). Mas pouco se fala sobre o que acontece (cientificamente) com a separação dessas famílias.
A política de Trump, que visa processar as entradas ilegais aos EUA, aplica-se a todos os adultos, independentemente de terem ou não filhos.
Aqueles que chegam com crianças passaram a ser separados esta semana, com os jovens sendo colocados em instalações de cuidados temporários (que mais se pareciam celas e jaulas), enquanto seus pais aguardam julgamento do Departamento de Justiça. A medida gerou polêmica, que correu um mundo em choque.
“Tirar crianças de suas mães é prejudicial a elas”, disse Jack Shonkoff, que dirige o Centro para o Desenvolvimento da Criança na Universidade de Harvard, à PBS. “Não há nada de complicado nisso, e há uma ciência incrivelmente forte e um grande pedaço de bom senso que nos leva às mesmas conclusões.”
Experiências adversas na infância são caracterizadas como eventos estressantes ou traumáticos, que podem levar a problemas de longo prazo. Por exemplo, quando uma criança é separada fisicamente dos pais, ela pode começar a experimentar o que é conhecido como estresse tóxico.
O corpo humano responde ao estresse aumentando sua frequência cardíaca, pressão sanguínea e hormônios do estresse, como o cortisol. De acordo com o IFLScience, quando esses sintomas ocorrem em ambiente saudável, o resultado pode ser tolerável (algo sério, mas temporário) ou mesmo positivo (breves aumentos na frequência cardíaca com elevações leves dos níveis hormonais).
No entanto, quando uma criança não consegue encontrar o apoio que precisa, o estresse prolongado pode resultar em sintomas físicos, com ramificações duradouras, semelhantes às que ocorrem com abuso físico ou emocional, negligência crônica e exposição à violência.
Segundo o portal científico, o sintomas podem até mesmo interromper o desenvolvimento saudável do cérebro, aumentando o risco de doenças relacionadas ao estresse (como doenças cardíacas, diabetes, depressão e abuso de substâncias), bem como o comprometimento cognitivo, que continua na vida adulta.
Uma vez detidas, as crianças na fronteira são colocadas em instalações de patrulha da fronteira entre o México e os EUA. Esse processo dura até três dias antes de elas serem transferidas para abrigos de longo prazo ou para famílias temporárias.
Especialistas pediram que o governo reverta a política, tendo o presidente norte-americano suspendido as separações temporariamente.
No entanto, os cientistas pedem que seja incluída declarações escritas da Academia Americana de Pediatria, do Colégio Americano de Medicina e da Associação Americana de Psiquiatria em uma nova política migratória.
Mais de 9 mil profissionais e organizações de saúde mental também assinaram uma petição expressando preocupação com a medida. “Pretender que crianças separadas dos pais não cresçam com o estilhaço dessa experiência traumática em suas mentes é desconsiderar tudo o que sabemos sobre o desenvolvimento infantil, o cérebro e o trauma”, diz a petição.
A Associated Press visitou um dos locais onde estavam as crianças no início da semana, descrevendo um antigo depósito no sul do Texas, onde “centenas de crianças esperam em uma série de gaiolas de metal“.
Tanto os republicanos quanto os democratas expressaram preocupação, mas as duas partes continuam divididas quanto à uma possível solução legislativa.
EM, Ciberia // IFLScience