Órgão regulador dá luz verde para uso condicional do imunizante em maiores de 18 anos. Falta aval da Comissão Europeia. Decisão se dá em meio a disputa entre a fabricante AstraZeneca e a UE sobre entrega de doses.
A Agência Europeia de Medicamentos (EMA), órgão da União Europeia que avalia pedidos de registro de medicamentos e vacinas, deu luz verde nesta sexta-feira (29/01) para o uso do imunizante contra a covid-19 desenvolvido pela farmacêutica AstraZeneca e pela Universidade de Oxford.
A Comissão Europeia deve agora conceder a aprovação formal para a vacina nas próximas horas, o que fará do imunizante de AstraZeneca-Oxford o terceiro certificado pelo bloco, ao lado das vacinas criadas pela Pfizer-Biontech e pela Moderna.
A aprovação da EMA é condicional e autoriza o seu uso em todas as pessoas com 18 anos ou mais, apesar de preocupações levantadas sobre a falta de dados que comprovassem a sua eficácia em idosos.
Na quinta-feira (28/01), a Comissão Permanente de Vacinação da Alemanha (Stiko, em alemão) afirmou que não recomendava o uso da vacina de AstraZeneca-Oxford em pessoas com 65 anos ou mais por esse motivo.
Disputa sobre entrega de doses
A aprovação pela EMA ocorre em maio a um crescente embate entre a AstraZeneca e a União Europeia a respeito do volume e do ritmo de entrega de doses ao bloco. Na semana passada, a AstraZeneca informou que reduziria o fornecimento de doses para a UE previsto para o primeiro trimestre do ano, citando problemas de produção em uma fábrica na Bélgica. A estimativa passou a ser entregar 31 milhões de doses, 60% a menos do que o esperado.
Nesta quarta-feira, a UE tornou pública suas frustrações com a AstraZeneca e sugeriu que a farmacêutica estaria descumprindo sua parte no acordo. No dia seguinte, o bloco afirmou que poderia utilizar os meios legais para bloquear exportações dos imunizantes produzidos no continente.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou nesta sexta que Bruxelas ainda aguardava uma “explicação plausível” da AstraZeneca sobre o atraso na entrega de sua vacina, e o bloco divulgou os termos e condições do contrato com a farmacêutica.
A distribuição de vacinas na UE ocorre em ritmo mais lento do que nos Estados Unidos, Reino Unido ou Israel, enquanto os países do bloco correm para garantir os estoques. O anúncio da AstraZeneca aumentou o risco de maiores atrasos, e centros de vacinação na Alemanha, França e Espanha já cancelaram ou adiaram o agendamento de pacientes.
A empresa afirmou nesta sexta que poderia oferecer mais 8 milhões de doses para a UE, e o bloco respondeu que a oferta ainda era inferior à quantidade prometida.
Vacina no Brasil
Há também muita expectativa em relação à vacina de AstraZeneca-Oxford no Brasil. O governo federal fechou um acordo em julho do ano passado com os produtores, tornando a Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) parceira no preparo e produção do imunizante no país.
O acordo envolve a entrega de 100,4 milhões de doses até o meio do ano, preparadas e envasadas pela Fiocruz partir do ingrediente farmacêutico ativo (IFA) importado, feito por uma empresa parceira da AstraZeneca na China. O contrato também transfere a tecnologia de produção do IFA ao Brasil para que, no segundo semestre, a Fiocruz produza mais 100 milhões de doses.
O primeiro lote da vacina envasada pela Fiocruz era esperado para o dia 8 de fevereiro, mas houve atrasos na importação do IFA, e agora a fundação diz que entregará o primeiro lote na segunda quinzena de março, se o envio do IFA for normalizado.
Para evitar maiores atrasos no início do programa de vacinação federal, e pressionado pelo início da aplicação da Coronavac pelo governo de São Paulo com doses importadas da China, o governo federal decidiu importar 2 milhões de doses prontas da vacina de AstraZeneca-Oxford feitas na Índia, que chegaram ao Brasil em 22 de janeiro.
O governo de São Paulo iniciou a vacinação no dia 19 de janeiro, e o governo federal, no dia 23. Tanto a vacina de AstraZeneca-Oxford como a Coronavac receberam autorização para uso emergencial em 17 de janeiro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
A relevância da vacina de AstraZeneca-Oxford para o Brasil se deve também a uma decisão do Ministério de Saúde de se comprometer inicialmente com apenas uma vacina, e não com um leque diversificado como ocorreu, por exemplo, na União Europeia. Contatos com a americana Pfizer no segundo semestre inicialmente não despertaram o interesse do governo.