Empresa privada programa operação de mineração na Lua para 2020

Andrew Smith / Flickr

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A primeira operação de mineração privada na Lua está programada para começar em 2020, quando uma embarcação enviada pela empresa Moon Express, da Flórida, nos EUA, transportará uma única porção de terra e pedras lunares de volta à Terra.

Os proprietários da empresa privada pretendem fazer algo bem diferente dos três governos que lideraram as missões lunares feitas até hoje – os Estados Unidos, a União Soviética e a China: eles planejam vender o que trouxerem de lá.

“Se tornará instantaneamente o material mais valioso e mais escasso da Terra. Vamos disponibilizar algumas à pesquisa científica. Mas também planejamos a comoditizar nós mesmos”, diz Bob Richards, CEO da Moon Express.

A Moon Express está se preparando para se tornar a primeira empresa a transportar um ativo comercial do espaço de volta à Terra. Mas não está sozinha.

Várias startups ambiciosas estão desenvolvendo planos para lançar operações de mineração na Lua e em asteroides, com as primeiras missões de teste previstas para ser iniciadas nos próximos anos e operações mais robustas dentro de uma década.

A China é uma peça-chave neste desenvolvimento, juntamente com um pequeno e improvável país europeu: o Grão-Ducado de Luxemburgo.

Quem está investindo na conquista destes mercados celestiais estão sendo atraídos pela brilhante riqueza que pode esperá-los no espaço. “Acreditamos que os primeiros trilionários serão feitos com recursos espaciais”, diz Richards.

Mais quais seriam exatamente os minerais que fariam com que estas fortunas literalmente espaciais fossem criadas?

Posto de gasolina no céu

A Lua possui quantidades significativas de um tipo especial de fonte de combustível futurista chamada hélio-3 – o suficiente, dizem alguns, para atender a toda a demanda de energia da Terra por milhares de anos, permitindo que os cientistas dominem a tecnologia de energia de fusão para utilizá-la.

Uma fortuna poderia ser feita por qualquer pessoa capaz de capturar e explorar um dos asteroides do tamanho de montanhas feitos de platina ou outros metais preciosos que, acredita-se, orbitam o Sol, ou os depósitos de elementos raros na Terra que são encontrados na Lua.

Outros apontam para o potencial de construção com gravidade zero de espaçonaves de colonização supermaciças e grandes estruturas flutuantes usando matérias-primas provenientes de asteroides.

A maioria, no entanto, está focada em um recurso comum na Terra: a água.

A água, dizem os empresários do espaço, será a mercadoria espacial-chave para uma economia expandindo-se para o Sistema Solar – tanto porque pode sustentar a vida como água potável e ar respirável, mas também porque pode ser dividida em hidrogênio e oxigênio para a manufatura de combustível para foguetes.

Encontrar fontes de água do espaço poderia, por exemplo, transformar a Lua em um depósito para missões mais ambiciosas. “A água é como o óleo do Sistema Solar”, diz Richards. “A lua poderia se tornar um posto de gasolina no céu”, afirma.

Permissão para explorar

A curto prazo, a Moon Express está focada em fornecer transporte de baixo custo para a superfície da Lua para clientes comerciais, privados, acadêmicos e governamentais.

Um cliente que já se inscreveu é a empresa Celestis, que oferece um serviço curioso: enviar restos humanos cremados para a superfície da Lua por um preço inicial de 12.500 dólares (cerca de R$ 40 mil).

Em 2016, a Moon Express tornou-se a primeira empresa privada na história a receber permissão da Administração Federal de Aviação dos EUA para viajar além da órbita da Terra e pousar uma nave na Lua.

A empresa está planejando três missões lunares no momento em que trouxer de volta a pequena colher de solo lunar, entre o tamanho de uma bola de beisebol e uma basquete, em 2020.

Vender parte daquela colher para interesses privados – por exemplo, como gemas de Lua em joias para os ultrarricos – estabelecerá um importante precedente.

O Tratado Internacional do Espaço Exterior de 1967 diz que nenhum país pode reivindicar soberania sobre território extraterrestre. Mas, em 2015, o presidente Barack Obama assinou uma lei que concede a cidadãos privados os direitos aos recursos recuperados do espaço.

A primeira missão da empresa, prevista para este ano, será em parte uma tentativa de conquistar o Google Lunar XPrize.

A competição oferece 20 milhões de dólares (cerca de R$ 65 milhões) para a primeira empresa privada capaz de pousar um veículo na superfície da lua, viajar 500 metros e, em seguida, transmitir imagens de alta definição de volta à Terra.

Outra empresa colocando uma equipe para o XPrize é a japonesa Ispace Inc. Em dezembro, a Ispace assinou um memorando de entendimento com a agência espacial japonesa, a JAXA, para a “mineração, transporte e uso de recursos na Lua”, de acordo com um comunicado da empresa.

Durante uma fase inicial de operações, a partir de 2018 até 2023, a Ispace irá enviar robôs exploratórios em crateras lunares e cavernas para verificar a existência de água.

O combustível do futuro

A China também está de olho nos recursos lunares – especialmente o hélio-3. Como fonte de energia, o hélio-3 é tão sedutor quanto elusivo: um agente não radioativo que não produz resíduos perigosos.

O isótopo é liberado pelo sol e carregado através do cosmo em ventos solares que são bloqueados pela atmosfera da Terra, mas se acumulam na superfície da Lua.

Como resultado, a Lua é tão rica em hélio-3 que poderia “resolver a demanda de energia dos seres humanos por cerca de 10 mil anos, pelo menos”, afirma um importante conselheiro científico chinês do programa de exploração lunar do país, o professor Ouyang Ziyuan.

Um dos principais defensores do hélio-3 lunar é Harrison Schmitt, um geólogo que andou na Lua durante a missão Apollo 17 da NASA e escreveu um livro em 2006 defendendo a mineração de hélio-3 lunar chamado Return to the Moon (Retorno à Lua, em tradução livre).

Outros, entretanto, são profundamente céticos – mesmo se a tecnologia de fusão necessária, que há muito tempo ocupa os pesquisadores, for dominada.

“Não vejo isso como uma solução econômica para as necessidades energéticas da Terra”, defende Ian Crawford, do Departamento de Ciências da Terra e do Planejamento do Birkbeck College, da Universidade de Londres. “O problema é que a abundância é muito baixa, da ordem de 10 partes por bilhão por massa, mesmo nas regiões mais abundantes”, aponta.

Outro recurso lunar potencialmente atrativo é o grupo platinado de metais, incluindo o irídio, o paládio e a platina, que têm qualidades especiais que os tornam altamente úteis em dispositivos eletrônicos. Acredita-se que tais elementos, raros na terra, são abundantes na Lua.

Richards, da Moon Express, diz que é muito cedo para especificar o recurso mais valioso na Lua. “Seria especulativo e preditivo dizer qual elemento específico vai ser aquele que vai mudar o jogo”, acredita ele.

Procurando água

Por enquanto, diz Richards, o alvo-chave é a água – que, com certeza, pode ser encontrada em asteroides congelados que circundam o Sol também. O primeiro empreendimento de mineração em águas profundas do mundo será lançado em 2019.

Duas empresas norte-americanas, a Planetary Resources e a Deep Space Industries, estão liderando a corrida da mineração de asteroides, em grande parte com o objetivo de fornecer recursos que outros tipos de missões espaciais precisarão.

Rick Tumlinson, presidente da Deep Space Industries, disse que sua empresa planeja desembarcar seu primeiro veículo em um asteroide em 2020. A companhia usará exploradores minúsculos para estudar alvos em perspectiva.

Quando um asteroide primário for localizado, um robô maior pousará nele, “morderá” um pedaço e então usará energia solar para evaporar e capturar água da amostra. “A água, acreditamos, é relativamente fácil de colher a partir de materiais de asteroides”, diz Tumlinson.

Se tudo correr de acordo com o plano, “até meados dos anos 20, estaríamos produzindo boas quantidades de recursos”, prevê.

A Planetary Resources também está focada na água. “Você pode concentrar essa energia solar e aquecer a superfície do asteroide e literalmente cozinhar a água, da mesma forma que fazemos em um pote de barro”, diz o CEO Chris Lewicki.

Tanto Lewicki quanto Tumlinson também apontam o potencial para o fornecimento de materiais de construção no espaço, o que poderia permitir a construção de estruturas flutuantes supermaciças que seriam um problema se fossem lançadas a partir da Terra.

No espaço, “você pode construir essas estruturas enormes que vemos nos filmes e na ficção científica”, diz Lewicki.

“O recurso que nos permitirá fazer isso é o metal que está nos asteroides. Podemos usar tecnologia como a impressão 3D. Podemos imprimir uma estrutura no espaço que nunca teria que ser erguida na Terra, nunca teria que fazer um violento passeio de foguete”, acredita.

Enquanto os bilionários Elon Musk e Jeff Bezos exploram ideias para colonizar o espaço e Marte, alguém precisará fornecer as matérias-primas, água e combustível que os colonizadores precisarão, dizem os defensores da mineração espacial.

E enquanto a mineração espacial pode soar como ficção científica agora, patrocinadores sérios, com bolsos grandes, já estão aparecendo.

Um total de 1,8 bilhão de dólares (cerca de R$ 6 bilhões) foi investido em empreendimentos espaciais em 2015 – mais do que nos 15 anos anteriores combinados, de acordo com a consultoria do Grupo Tauri. Mais de 50 empresas de capital de risco investiram em negócios espaciais em 2015, o máximo de qualquer ano, segundo o grupo.

A minúscula nação europeia de Luxemburgo investiu 25 milhões de euros (R$ 80 milhões) na Planetary Resources e colaborou no desenvolvimento do Prospector-X, a primeira nave espacial da Deep Space Industries.

A Lua, diz Richards, é como o 8º continente da Terra, e é em sua maior parte inexplorada. “Nós somos como os primeiros pioneiros”, diz ele, “olhando para um mundo totalmente novo”.

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