Enigmática “parede de fogo” detectada no Espaço vai contra leis da Física

M. Kornmesser / ESO

Impressão de artista das imediações de um buraco negro supermassivo

Impressão de artista das imediações de um buraco negro supermassivo

A análise dos dados recolhidos pelo LIGO (Observatório de Ondas Gravitacionais por Interferômetro Laser) no ano passado indica a existência de uma “parede de fogo” junto ao Horizonte de Eventos dos buracos negros, o que refuta a teoria da relatividade de Einstein, comunica o serviço noticioso da revista Nature.

“Acreditávamos que os buracos negros fossem uma espécie de precipícios sem fundo. Em nossa opinião, não havia modo de verificar isto e olhar para além do Horizonte de Eventos. A descoberta das ondas gravitacionais pelo LIGO mudou a situação”, afirmou Niayesh Afshordi do Instituto Perimeter de Física Teórica, no Canadá.

Por bastante muito tempo os cientistas consideravam que qualquer matéria “devorada” por um buraco negro não era capaz de abandonar seus confins. A situação se tornou muito mais complicada e contraditória em 1975, quando o eminente astrofísico Stephen Hawking revelou que os buracos negros iriam gradualmente “evaporar” devido aos efeitos quânticos perto do Horizonte de Eventos, ao emitirem energia na forma de radiação Hawking.

Isto se tornou um grande problema para os teóricos, já que a evaporação dos buracos negros e o surgimento de tal tipo de radiação sugere que os dados sobre a condição quântica dos corpos devorados pelos buracos negros se perdem para sempre, o que não pode acontecer em conformidade com as leis contemporâneas da Física.

‘Parede de fogo’ cósmica

Em 2012, Joseph Polchinski, laureado do prêmio Breakthrough Initiative, e uma série de outros teóricos físicos, encontraram a saída deste problema na chamada “parede de fogo” – uma camada invisível de quantum de alta energia ao redor do buraco negro que elimina qualquer matéria que lá caia.

Segundo explica Afshordi, a existência desta “parede de fogo” deve se refletir no processo de produção de ondas gravitacionais quando dois buracos negros se fundem. Em um cenário mais simplificado, a presença de tal “parede” deve levar a que estas ondas sejam acompanhadas de um “eco”, produzido após a principal emissão de radiação gravitacional.

Tal “eco” surgirá graças às características excepcionais da camada externa desta “parede”, que poderá retardar por algum tempo a energia das ondas gravitacionais e emiti-las com intervalos regulares. Segundo Afshordu, para os buracos negros este intervalo será de 0.1, 0.2 e 0.3 segundos.

Com base nesta ideia, os cientistas tentaram encontrar tais emissões de radiação gravitacional nos dados recolhidos pelo LIGO durante as duas fusões confirmadas de buracos negros e a terceira emissão não confirmada de “ondas de Einstein” que, mais provavelmente, também se deu em resultado da fusão dos dois buracos negros.

Eco do nada

Segundo foi revelado, tal “eco” gravitacional ocorreu em todas as três situações, sendo que o nível de autenticidade do descobrimento é bastante alto – cerca de 2,9 sigmas, ou seja, a probabilidade de erro é de 0,037%.

Segundo diz a Nature, o LIGO se interessou por esta revelação e disse estar disposto a provar a existência de tal eco gravitacional durante a nova fase de funcionamento do observatório, que começou há pouco.

Se esta teoria for confirmada, isto significará que a teoria da relatividade não pode ser aplicada sempre e em toda a parte – nas cercanias dos buracos negros, como mostra a provável existência de uma “parede de fogo”, ela deixa de funcionar. Se isto for na verdade assim, os cientistas serão obrigados a rever, de fato, os pilares de toda a Física contemporânea.

O físico teórico polonês Lubos Motl, que já trabalhou em Harvard, não está de acordo com tais conclusões. Ele destaca que tais declarações precisam de algo maior que apenas 2,9 sigmas e não acredita que a formação de tais ondas seja possível de acordo com as leis da Física.

“Imaginemos que tais emissões na verdade existem nos dados do LIGO e vejamos qual pode ser a sua interpretação – podem ser chamadas de “parede de fogo” ou, por exemplo, de “novelo de fios”. O problema é que a interpretação de Afshordi aceita ambas as variantes apesar de eles serem coisas completamente diferentes. Além disso, a essência da teoria de uma “parede de fogo” consiste em que não há nada nos buracos negros para além do Horizonte de Eventos. E se tais “paredes” existem, elas não se parecem nada com as “câmaras de eco” necessárias para produzir tal tipo de ondas”, comentou o cientista.

De acordo com ele, nós nunca seremos capazes de olhar para além do Horizonte de Eventos, e tal “eco”, mesmo que exista, pode ser produzido por outros processos, explicáveis pelas leis clássicas da Física, inclusive pela teoria da relatividade.

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