Os europeus têm alta estima pela chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, e aprovam o estilo de liderança dela, baseado na busca de consensos, mostra uma pesquisa do Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR, na sigla em inglês), um grupo de estudos internacionais fundado em 2007 e com sede em Londres.
“Normalmente há duas narrativas sobre Merkel na Europa. Uma a vê como uma grande mediadora nas crises, que busca harmonizar interesses diversos. A outra é a de uma política sem visão” de longo prazo, resumiu o diretor do estudo, Piotr Buras, do ECFR em Varsóvia.
Em todos os 12 países-membros da União Europeia considerados na pesquisa, Merkel superaria o presidente da França, Emannuel Macron, numa hipotética eleição para presidente da União Europeia, um cargo que não existe.
O apoio a Merkel para “presidente da UE” é maior entre os holandeses (58%), espanhóis (57%) e portugueses (52%). Na Alemanha, ela obteria 42% dos votos, segundo a pesquisa. No total dos entrevistados, teria 41%, contra 14% para Macron.
Confiança na Alemanha
O estudo também mostra que os europeus veem a Alemanha como uma força confiável e pró-europeia. “Em retrospecto, o maior feito da política europeia de Merkel provavelmente foi o de ter posto a Alemanha no coração de uma Europa ampliada, e reduzido significativamente os temores dos vizinhos de uma dominação alemã”, afirma.
Os europeus têm grande confiança na liderança da Alemanha em matérias como economia e finanças (36%) e na defesa de democracia e direitos humanos (35%). A situação é diferente nas relações com outras potências, como os Estados Unidos, a Rússia e a China. A Hungria é o país que mais confia na Alemanha no que diz respeito à capacidade de gerir as relações com as grandes potências mundiais.
Resultado surpreendente
“Uma das surpresas nos dados que foram apresentados diz respeito às expectativas positivas em relação à liderança alemã em assuntos como economia e finanças”, observou Daniela Schwarzer, diretora para a Europa e Ásia da Open Society Foundation.
Schwarzer recordou que há dez anos a Alemanha impôs decisões econômicas, em conjunto com a Comissão Europeia, Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional, que foram profundamente criticadas nos países do sul da Europa.
A Alemanha defendia políticas de austeridade e superávit elevado para os países da zona do euro, lembra Schwarzer. Por isso, são surpreendentes os dados sobre a confiança de a Alemanha defender os interesses europeus na economia, acrescentou.
Uma nova Alemanha
Em referência ao fim da “era Merkel”, Buras, do ECFR em Varsóvia, disse que o estudo mostra que, para a maioria dos europeus, a “idade de ouro” da Alemanha está no passado e que os alemães têm de mostrar capacidade para se reinventarem.
“O que mostramos no nosso estudo é o paradoxo alemão. A Alemanha, quando olha para trás, vê uma era de grande sucesso com Angela Merkel, mas esse modelo é politicamente insustentável. A Alemanha tem de se reinventar em muitas áreas. Podemos pensar num futuro melhor, na União Europeia e também na Alemanha, e isso está nas mãos dos alemães”, disse.
“O ‘merkelismo’ não é mais sustentável. Merkel pode ter administrado habilmente o status quo em todo o continente, mas os desafios que a Europa enfrenta agora – a pandemia, as mudanças climáticas, a competição geopolítica – exigem soluções radicais, não mudanças cosméticas. A UE precisa de uma Alemanha visionária”, acrescentou.
Como exemplos, Buras disse que a Alemanha deve confrontar países acusados de violar os valores europeus, como a Polônia e a Hungria, e encontrar uma maneira de trabalhar com os Estados Unidos para defender interesses europeus na relação com a China.
Ele ainda apontou como “desastroso” o acordo energético entre a Alemanha e a Rússia (Nord Stream 2), a política de defesa em relação à missão militar no Afeganistão e as “hesitações” sobre a política climática e o envelhecimento da população alemã.
Ciberia // DW