Mãe de sete filhos, a catadora de lixo Sandra Maria de Andrade ficou sem saber ler e escrever até os 42 anos de idade. Abandonada pela mãe, a mulher foi obrigada a priorizar o trabalho ante aos estudos.
Ao longo da vida, Sandra fez de tudo um pouco: atuou na lavoura, fez faxina e, na fase adulta, depois de ter sido agredida pelo marido, se sentiu desconfortável por não saber escrever o próprio nome.
Após de ter frequentado sem sucesso uma turma de jovens adultos, Sandra, moradora da periferia de Natal, capital do Rio Grande do Norte, contou com a ajuda do filho de 11 anos para superar as dificuldades.
Dia após dia, Damião Sandriano de Andrade Regio chegava da escola com livros emprestados pela biblioteca e lia ao lado da mãe. Com o avanço da leitura, Sandra começou a escrever as primeiras letras e formar palavras.
“Eu tomava banho, deitava na rede, ele vinha e me chamava para ler. Eu queria ver os desenhos, mas também queria aprender as letras. Ficava curiosa”, conta em entrevista publicada pela BBC.
O tempo passou e hoje, quase dois anos depois do início da parceria, a dupla já leu mais de 100 livros e Sandra tirou uma nova carteira de identidade, desta vez com seu nome assinado.
Infelizmente, o analfabetismo ainda é uma realidade que atinge 7,2% da população de 15 anos ou mais. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil possui 11,8 milhões de analfabetos.
A desigualdade permanece como um dos fatores principais. No Sudeste, a taxa de pessoas que não sabem ler e escrever é de 3,8%, já no Nordeste o número salta para 14,8%, a maior do Brasil.
O racismo estruturante também deixa sua contribuição no cenário. Negras e negros respondem por quase 10% dos analfabetos, enquanto o deficit entre os brancos é de 4,2%.