O presidente filipino, Rodrigo Duterte, disse que as forças de ordem podem abater qualquer pessoa que provoque “transtornos” nas regiões onde o confinamento da população foi decretado. As autoridades do país tentaram minimizar as declarações do chefe de Estado, conhecido por suas posições radicais em termos de segurança pública.
“As minhas ordens para os policias, para os militares, mas também para os oficiais dos vilarejos são claras: se houver transtornos ou brigas que coloquem suas vidas em perigo, atirem para matar”. Foi assim que o presidente filipino resumiu sua estratégia para controlar a situação em seu país diante da pandemia de coronavírus. “Em vez de causar problemas, vou mandá-los para o túmulo”, completou.
Mais uma vez, como acontece após cada declaração polêmica de Duterte, as autoridades do país tentaram colocar panos quentes. O chefe da Polícia, Archie Gamboa, garantiu nesta quinta-feira (2) que os agentes não vão começar a atirar naqueles que provocarem transtornos nas ruas. “O presidente provavelmente insistiu demais na aplicação da lei nesse período de crise”, ponderou.
Na noite de quarta-feira (1°), algumas horas antes das declarações de Duterte, cerca de 20 pessoas foram presas nas favelas de Manila. Os suspeitos estavam organizando uma manifestação contra o governo, criticado por não ter fornecido ajuda alimentar para os mais pobres.
Atualmente, quase metade da população do arquipélago de 110 milhões de habitantes está confinada. Milhões vivem em condições de extrema pobreza e sem trabalho, o que torna mais difícil o isolamento.
As medidas de quarentena atingem diretamente os 12 milhões de habitantes da capital. O confinamento provocou o fechamento da maior parte das empresas, a suspensão de praticamente todas as atividades sociais, religiosas e comerciais do país.
Política linha-dura
Desde sua eleição em 2016, Duterte encampa uma guerra contra a droga no país. No entanto, sua política linha-dura é marcada por declarações controversas, como a proposta de eliminar todos os usuários de entorpecentes.
“É preocupante que Duterte tenha ampliado sua política que autoriza os policiais a atirarem para matar. O uso da força incontrolada não deve nunca ser considerado uma solução para responder à uma situação de urgência como a pandemia de Covid-19”, reagiu em um comunicado o escritório da Anistia Internacional no país.
As Filipinas já registraram mais de 2.300 casos da doença e 96 mortos vítimas do novo coronavírus. No entanto, o balanço deve ser bem maior, pois só agora o arquipélago começou a intensificar os testes na população.
// RFI