No momento em que a eterna questão sobre o véu islâmico na França voltou aos holofotes, um ataque com motivação islamofóbica acirrou ainda mais o debate, que coloca o presidente Emmanuel Macron em uma situação delicada.
Nesta terça-feira, o Senado francês vai analisar um projeto de lei para proibir o uso do véu por mães que acompanham seus filhos em passeios promovidos pelas escolas.
A polêmica se iniciou há 13 dias, quando uma mãe muçulmana portando o hijab foi hostilizada por um vereador da extrema direita, enquanto participava de uma visita a um prédio público junto com estudantes, inclusive seu filho. Imagens que circularam nas redes sociais mostram a mãe tentando acalmar o garoto, que chora nos seus braços, antes de sair do edifício.
Na sequência, o partido conservador Os Republicanos apresentou a proposta de enquadramento legal da questão. Nesta segunda-feira (28), o presidente Emmanuel Macron recebeu representantes dos muçulmanos no palácio do Eliseu, para pedir a colaboração deles no esclarecimento dos fiéis a respeito “do lugar do véu, das mulheres e das escolas” na sociedade francesa, profundamente apegada à laicidade.
“É preciso um discurso claro para não se prolongar a ambiguidade, da qual se alimentam os radicais”, disse o líder francês.
O debate coloca Macron em uma posição complicada: se, por um lado, o presidente evita estigmatizar ainda mais a população muçulmana na França, por outro é cobrado para ter firmeza em relação à proibição do uso do véu em repartições públicas, como determina a lei.
Idoso tentou incendiar mesquita
O ataque a uma mesquita de Bayonne, no sudoeste francês, intensificou ainda mais a discussão. Dois homens ficaram gravemente feridos nesta segunda-feira por tiros disparados no local por um idoso, depois que ele foi surpreendido enquanto tentava incendiar o templo.
O homem, Claude Sinké, de 84 anos, foi detido. Sinké chegou a concorrer em 2015 em uma eleição local pelo partido de extrema direita Reunião Nacional, de Marine Le Pen.
O ministro do Interior da França, Christophe Castaner, expressou sua solidariedade e apoio aos muçulmanos e observou que “os atos cometidos na mesquita de Bayonne nos comovem e ultrajam a cada um de nós”. Abdallah Zekri, presidente do Observatório Nacional contra a Islamofobia e Delegado Geral do Conselho Francês da Fé Muçulmana (CFCM), “condenou esse ato criminoso“, em declarações à AFP.
“Há uma grande preocupação entre a comunidade muçulmana da cidade“, disse o representante do CRCM regional. “Com o atual clima de estigmatização do Islã e dos muçulmanos, não é de surpreender que tais atos possam ocorrer”, acrescentou.
// RFI