Já pensou em como seria mais fácil um único cadastro de saúde com todos os seus dados médicos, que vão desde a primeira vacina ainda na maternidade até a da febre amarela, incluindo todas as cirurgias e alergias? Felizmente, uma parcela — mesmo que ainda pequena — da população mundial vive algo próximo disso.
No entanto, são cerca de 3,8 bilhões de pessoas sem acesso a uma internet rápida e confiável no planeta, segundo dados da The Economist Intelligence Unit. Essa realidade afeta, principalmente, países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, onde poucos pontos têm acesso à internet e a técnica mais conhecida de registro de vacinas é anotar esses dados em uma carteirinha de papel, que irá muito provavelmente se perder.
Por isso mesmo, acompanhar quem tomou qual vacinação e quando pode ser uma tarefa difícil. Na verdade, é praticamente impossível. Pensando nisso, a Fundação Bill e Melinda Gates e os pesquisadores do MIT podem ter encontrado uma solução: eles criaram uma tinta segura que pode ser aplicada na pele ao lado da própria vacina. Além disso, ela só é visível quando usado um aplicativo desenvolvido especialmente para smartphones, que emite luz, revelando a marca.
Em outras palavras, eles encontraram uma maneira “secreta” de incorporar o registro de uma vacinação, diretamente, na pele do paciente, em vez de fazer esse registro de forma eletrônica ou em papel. Dessa maneira, o sistema de rastreamento desenvolvido poderia simplificar e muito a manutenção de registros precisos de vacinação.
“Nas áreas em que os cartões de vacinação em papel geralmente são perdidos ou não existem, e os bancos de dados eletrônicos são inéditos, essa tecnologia pode permitir a detecção rápida e anônima do histórico de vacinação dos pacientes, para garantir que todas as crianças sejam vacinadas”, explica o pesquisador do MIT e um dos autores do estudo Kevin McHugh.
O projeto das “tatuagens secretas” que acompanham vacinas surgiu a partir de uma solicitação direta do próprio fundador da Microsoft, Bill Gates, que está envolvido há anos em esforços para erradicar a poliomielite e o sarampo, por exemplo.
Segundo artigo publicado na revista Science Translational Medicine, a marca “secreta” é feita a partir de uma espécie de adesivo com minúsculos pontos — pequenos cristais semicondutores que refletem a luz — que brilha sob a luz infravermelha. Na hora da vacinação, tanto o sinal quanto a vacina são liberados na pele usando essas microagulhas.
Até agora, o sistema é somente uma prova de conceito, ou seja, não está pronto para o uso. No entanto, os pesquisadores já testaram a aplicação em ratos e descobriram que os padrões ainda eram detectáveis nove meses após a injeção. Nos modelos de pele humanos, os padrões duraram mais de cinco anos com exposição solar simulada.
“É possível um dia que essa abordagem ‘invisível’ possa criar novas possibilidades para aplicativos de armazenamento de dados, biossensores e vacinas que possam melhorar a forma como os cuidados médicos são prestados, principalmente nos países em desenvolvimento”, explica o professor e autor sênior do MIT, Robert Langer.
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