Uma descoberta de “arqueologia para pessoas preguiçosas” permitiu chegar a surpreendentes desenhos de arte rupestre que dão pistas relevantes sobre como foi o período Neolítico ou Idade da Pedra Polida no Egito, muito antes de os Faraós terem chegado ao poder.
Arqueólogos da Universidade de Bona, na Alemanha, descobriram, sem sequer precisar de esforços de escavação, um desenho esculpido na pedra que mostra um caçador com um arco, ao lado de uma avestruz e de um bailarino com uma máscara de pássaro.
A imagem é surpreendente porque não havia, até agora, quaisquer registros do uso de máscaras pelos vivos no período Neolítico no Egito, e já foi eleita como uma das 10 mais importantes descobertas arqueológicas do país pelo Ministro das Antiguidades do Cairo, revela HeritageDaily.com.
A imagem, que está praticamente imperceptível na rocha, teria cerca de 6 mil anos, datando do quarto milênio antes de Cristo.
Foi uma descoberta de “arqueologia para pessoas preguiçosas”, assume o egiptólogo Ludwig Morenz, da Universidade de Bona, em declarações ao Live Science, explicando que foi só preciso analisar a paisagem em redor da necrópole de Qubbet el-Hawa – a chamada Colina do Vento -, próximo de Aswan, para a encontrar.
No local, no período Faraônico, eram enterrados os nobres da antiga cidade de Elefantina, na ilha de mesmo nome, no meio do Nilo. Mas o uso que lhe era dado na Idade da Pedra não teria nada a ver com isso, conforme sublinha Morenz.
“Muito provavelmente, estas imagens na rocha foram colocadas em antigos caminhos que não têm nada a ver com a necrópole faraônica posterior, mas onde havia acesso comunicativo, por qualquer que fosse a razão”, destaca o egiptólogo.
“Na antiga cultura egípcia, conhecemos muitas, muitas máscaras, mas são, basicamente, todas máscaras para os mortos”, como ocorria no tempo dos Faraós, afirma o pesquisador.
A pessoa perto da avestruz com uma máscara de pássaro “pode ter sido um xamã“, explica Morenz. Assim, a máscara pode ter tido “finalidades rituais”, acrescenta.
Outras culturas do Neolítico usavam também bailarinos com máscaras e Morenz assume que é plausível que os povos do Egito do Neolítico tivessem contato com os seus vizinhos da Mesopotâmia (o atual Iraque), da Anatólia (território da atual Turquia) e de Elam, um antigo estado no sul do Irã.
Mas “a similaridade não significa, necessariamente, que havia um contato direto e também não significa, necessariamente, que havia uma influência”, sustenta o pesquisador.
“Às vezes, as coisas podem ser semelhantes devido a condições semelhantes“, conclui.
De qualquer modo, podemos estar perante “um elo entre o antigo Oriente Próximo e até o período Neolítico do Sul da Europa e a antiga Cultura Egípcia”. E só essa ideia “abre novos horizontes de pesquisa” que é preciso explorar, salienta Morenz.
// ZAP