Homem ameaça pelo Facebook fazer “o mesmo que o cara de Campinas” e é preso

Um morador de Jaboticabal (SP) foi preso nesta quarta-feira (4) por suspeita de ter feito uma série de ameaças de morte contra uma juíza e duas promotoras.

O homem de 43 anos está em disputa judicial contra a ex-mulher pela guarda do filho e escreveu em seu perfil no Facebook que repetiria a chacina ocorrida em Campinas durante o réveillon.

Rodrigo Nomura Guerreiro, de 43 anos, fez as ameaças em postagens onde cita nomes de quem pretendia assassinar e disse que iria invadir o Fórum da cidade para matar o maior número possível de pessoas, antes de cometer suicídio.

De acordo com as postagens no Facebook, a ideia do suspeito era de repetir o que ocorreu em Campinas durante o réveillon, quando Sidnei Ramis de Araújo, de 46 anos, pulou o muro da residência da família da ex-mulher e efetuou vários disparos.

Ao todo, 12 pessoas foram mortas durante a ocorrência. Em uma carta deixada antes do crime, o atirador afirma que estava se vingando da ex-esposa porque ela dificultava seu relacionamento com o filho.

A polícia de Jaboticabal foi acionada e encontrou Rodrigo em casa, no bairro Jardim São Marcos, no momento em que fazia a última ameaça no Facebook. Além das profissionais que atuam no Fórum, ele também ameaçou a ex-mulher porque ela teria saído do País levando o filho do casal, de 10 anos.

O suspeito foi preso em flagrante. Ele responderá pelos crimes de injúria, ameaça e coação no curso do processo, quando se intervém em processo judicial utilizando violência ou ameaça. O delegado seccional, Cláudio José Otoboni, afirma que Rodrigo já estava sendo monitorado pela Polícia Civil há algum tempo.

“Ele foi preso no início da madrugada em flagrante quando foi surpreendido logo após acabar de fazer uma última postagem nas redes sociais com relação a crimes de ameaça e difamação. Ele já vinha fazendo as ameaças há alguns dias, foi identificado pela Polícia Civil e encaminhado para o CDP de Itaiuva”, conclui.

Movimentos sociais repudiam banalização da violência contra mulheres

Nessa terça-feira (3), 67 organizações nacionais e internacionais e 44 advogadas envolvidas na defesa dos direitos da mulher divulgaram nota afirmando que houve negligência do Poder Público na proteção a Isamara. A nota lembra que, ao longo de 10 anos, Isamara registrou cinco boletins de ocorrência contra o ex-companheiro por agressão e ameaça, e por abuso sexual contra o filho. O período coincide com a aprovação da Lei Maria da Penha. Em cartas e áudios deixados por Sidnei, ele zomba da lei, que chama de “Vadia da Penha” – a mesma expressão usada para se referir à ex-mulher e outras mulheres da família de Isamara.

Para a advogada Mariana Mei, que é de Campinas e também assina a nota, a narrativa construída por Sidnei encontra eco na sociedade e nas instituições públicas brasileiras.

“Essa questão da mulher procurar ajuda, procurar delegacias e não conseguir medida protetiva, não é inédito. É recorrente. O que acredito que é um pouco diferente, o que mais chama atenção nesse caso é justamente toda uma narrativa construída para dar uma justificativa ideológica para aquilo que o ex-marido dela cometeu. Uma justificativa que é aceita e é reproduzida por parte da sociedade, como a gente vem acompanhando nas redes sociais e até nessas mensagens de Whatsapp que circulam. Eu ouvi de muitas pessoas: Ah! Enfim, será que a culpa não foi dela? Será que ela não inventou essa história do abuso da criança? Assim… como se alguma coisa justificasse alguém entrar numa festa de réveillon e atirar contra todas as pessoas que estão ali presentes com o objetivo de matar.”

Para reforçar o argumento, Mariana lembra de casos como a menção de repúdio aprovada pela câmara de vereadores de Campinas, por 25 votos a CINCO, contra a questão da prova do Exame Nacional do Ensino Médio de 2015 (Enem), que citou a filósofa e feminista francesa Simone de Beauvoir.

“Eu acho que existe uma responsabilidade sim, moral, do Poder Público de uma maneira geral. Tanto do executivo, quanto do legislativo e muitas vezes do judiciário, na medida em que também negligenciam um pouco esses pedidos de ajuda que chegam ali nos guichês da polícia, nas delegacias da mulher.”

Em Campinas, está sendo organizada uma passeata para esta quinta-feira (5). O ato é encabeçado pelo Centro de Referência e Apoio à Mulher (Ceamo), ligado à prefeitura da cidade. Segundo Elza Frattini Montalli, coordenadora do centro, o objetivo é prestar solidariedade, mas também reforçar a luta contra o machismo.

“Neste momento, a gente procura expressar nossa solidariedade aos familiares e aos amigos da vítima. Nós queremos também manifestar nosso repúdio à banalização da violência contra as mulheres. Nós estamos, no momento, em choque, pelo fato acontecido, por esse feminicídio, que choca, que nos atinge também a todas nós mulheres, acho que toda a sociedade. Nosso intuito é reafirmar a nossa luta pelo combate à violência, pelo combate à cultura machista, para a implementação de projetos de educação, projetos que trabalhem mais a prevenção, mostrando nossa indignação contra esse fato, e de certa forma dizer que nós não recuamos, que nós todas, mulheres, tanto os movimentos, quanto a sociedade civil, estamos dispostas a encarar a violência e fazer o que possível para mudar essa cultura machista e patriarcal que a gente vive, não só aqui em Campinas, mas no Brasil todo.

Tanto a coordenadora da Ceamo, como outras feministas, como a blogueira Lola Aranovich, reivindicam que o crime deixe de ser chamado de chacina e passe a ser adotada a expressão feminicídio para se referir à tragédia de Campinas.

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1 COMENTÁRIO

  1. As mulheres são ameaçadas por homens que não respeitam nem as decisões judiciais de manterem distância.
    Acabam sendo assassinadas.
    Seria mais eficaz se pudessem ter armas para a sua proteção.
    Quando um assassino invade um local público e fuzila a multidão, isso só ocorre porque as pessoas estão desarmadas.
    Caso contrário ele seria morto imediatamente.
    A Lei Seca que proibiu babidas alcóolicas nos Estados Unidos não funcionou.
    Os brasileiros se manifestaram a favor da permissão da população ter armas para a sua proteção.
    Isso não foi respeitado e veio a Lei do Desarmamento que precisa com urgência ser revogada.
    Reinaldo Leal – Jornalista do Rio de Janeiro

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