A pergunta sobre quanto tempo dura a imunidade do novo coronavírus (SARS-CoV-2) segue intrigando cientistas de todo o mundo.
Em junho, um estudo chinês apontava que os anticorpos para a COVID-19 poderiam durar por apenas dois ou três meses após a infecção, especialmente entre os assintomáticos. Agora, um outro estudo, desenvolvido em Singapura, revela que a imunidade ao vírus pode ser maior que a prevista inicialmente.
Publicado na revista científica Nature, o estudo foi desenvolvido a partir de uma parceira entre cinco institutos de Singapura e sugere que a infecção e a exposição aos coronavírus induzem a produção de células T — tipo de célula específica do sistema imunológico — mais duradouras, o que pode impactar tanto os rumos da pandemia e até mesmo o desenvolvimento de vacinas contra a COVID-19.
Entenda a pesquisa
Para chegar a essa conclusão, a equipe de Singapura testou indivíduos que se recuperaram da COVID-19 e encontraram em todas as amostras a presença de células T, específicas para o novo coronavírus. É isso que sugere que essas células desempenham um importante papel na resposta imunológica contra o coronavírus — e entender por quanto tempo elas se manterão é fundamental.
Em paralelo, os mesmos pesquisadores também concluíram que os pacientes que se recuperaram da SARS (Síndrome respiratória aguda grave), há 17 anos, após o surto de 2003, ainda possuem células T específicas para o vírus.
Foi o que descobriram entre os 23 pacientes analisados.
“Esses achados demonstram que as células T específicas para vírus induzidas por infecção por betacoronanvírus [responsável tanto pela MERS quanto pela COVID-19] são duradouras, apoiando a noção de que pacientes com COVID19 desenvolverão imunidade em longo prazo através de células T”, especulam pesquisadores no estudo.
“Os resultados são animadores individualmente, porque mostram que a resposta contra coronavírus pode ser duradoura, o que quer dizer que mesmo se a pessoa se infectar de novo, pode ser mais leve porque o corpo já está preparado. E que pode ser fácil de despertar com uma vacina”, completa ainda Iamarino.
Por outro lado, o microbiologista brasileiro levanta uma outra questão referente a importância das células T na defesa do organismo contra a COVID-19: segundo ele, se a resposta por células T é mais importante e mais comum do que anticorpos, pode ser que o sistema respiratório das pessoas recuperadas da COVID ainda se mantenha vulnerável, o que abriria portas para recidivas e novos contágios.
Quanto a essas descobertas, via Twitter, o microbiologista e doutor pela USP, Atila Iamarino, comenta como os cientistas chegaram a esses resultados, observando a resposta imunológica dos participantes da pesquisa.
Apesar das promissoras descobertas dos pesquisadores, ainda não há como afirmar ou precisar um período em meses ou anos sobre a durablidade da imunidade daqueles que já contraíram a COVID-19. Com base em achados de outras doenças, pode ser que seja maior que três meses, ou até mesmo, anos. Mais estudos sobre linfócitos T são necessários — e principalmente estudos prospectivos. Como a doença ainda é relativamente nova, várias hipóteses surgem a todo momento, e várias incógnitas, também.
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